Crítica: Bala Perdida (Balle Perdue)
Bala Perdida começa com um plano estúpido elaborado por um idiota e executado por um imbecil. O protagonista, Lino (Alban Lenoir), precisa arrumar uma grana para seu irmão, Quentin (Rod Paradot), para que ele pague uma dívida e consiga se livrar de trabalhar para uns bandidos barra pesada. Lino é um mecânico de muito talento e o plano desses dois animais para conseguir 10 mil euros é tunar um Renault Clio, atravessá-lo pelas paredes de uma joalheria e depois usar esse mesmo carro pra ir embora. É um plano de merda, que obviamente não funciona e acaba por fazer com que Lino seja preso. Nesse momento eu já tomei isso como o prenúncio de um filme de ação extremamente merda e minhas expectativas foram lá pra baixo. E qual não foi minha surpresa quando Bala Perdida a cada momento se mostrava um bom filme do gênero, feito na raça e quase que exclusivamente no talento de uma equipe de dublês excelente.
Após ser preso, Lino é cooptado por Charas (Ramzy Bedia), um comandante de uma força tarefa do que parece ser uma Polícia Rodoviária em algum lugar da França que combate os traficantes de droga do que eles chamam “go fast”. Basicamente, os traficantes usam carros boladões para conseguir transportar rápida e seguramente a maior quantidade de droga possível, enquanto que Charas se vê para trás por não ter em sua equipe um mecânico com o talento de Lino. Meses se passam, Lino já se tornou o mecânico sinistrão que vira completamente o jogo no combate aos “go fast” e coisas (que não revelarei para não dar spoiler) acontecem de modo a fazer com que ele tenha que fugir, em um longa de perseguição e porrada bem certinho, o que é bem surpreendente considerando ser este um filme francês.
Alban Lenoir, que interpreta Lino, é um ex-dublê que virou ator de certo sucesso no Cinema e TV franceses, e assina o roteiro desse filme que parece realmente ter sido feito como um veículo para que o espectador testemunhe cenas muito bem coreografadas de porradaria e principalmente, de perseguição de carro. Mas, não se engane, não temos aqui a pirotecnia de Michael Bay no lamentável “Esquadrão 6“, mas, sim, um filme de orçamento limitado e sem aparentemente nenhum efeito de computação gráfica. Tudo o que acontece aqui é feito pela perícia dos dublês e da equipe técnica, na raça, com vontade e elã.
A história está muito longe de ser um primor e as atuações no sentido dramatúrgico da palavra muito menos, mas eu vi neste longa gente trabalhando por amor ao que faz e conseguindo realizar um filme de ação que consegue ir pouco além de ser meramente passável. Isso por si só já é de ser louvado, mas a cena de carro do confronto final consegue elevar o filme ainda mais um pouco, seja por sua inventividade, seja pelo uso de efeitos especiais que parecem ser exclusivamente práticos, o que é, estranhamente, um frescor nessa época em que tudo é feito no computador.
Em suma, ninguém aqui tentou reinventar a roda, mas tão somente fazer um filme de puro entretenimento com paixão. E eu diria que a proposta foi plenamente alcançada.
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