Crítica: Wasp Network - Rede de Espiões (Wasp Network)
Dirigido pelo francês Olivier Assayas, cujo entusiasmo cinematográfico costuma permear a interseção de grandes questões políticas e peculiaridades de cunho pessoal, buscando intensificar emocionalmente os seus personagens, Wasp Network: Rede de Espiões nos apresenta uma narrativa fundamentada em um pouco de muita coisa e em muito de quase nada.
O excelente elenco que deveria exalar borogodó latino com a cubana Ana de Armas, o brasileiro Wagner Moura, o mexicano Gael García Bernal, o venezuelano Edgar Ramírez e a cereja do bolo, a espanhola Penélope Cruz, se afasta da direção à medida em que a salada de situações inorgânicas vai sendo temperada.
O filme nos transporta para Havana, em meados da década de 90, quando René González (Edgar Ramírez), um piloto de avião cubano, furta uma aeronave de pequeno porte e foge de Cuba, deixando sua esposa Olga Salanueva (Pénélope Cruz) e sua filha sem maiores explicações iniciais.
Ao dar início a uma nova trajetória em Miami, logo outros desertores cubanos como Juan Pablo Roque (Wagner Moura), chegam ao território norte-americano sob a premissa do exílio político e dão início ao auxílio no resgate de compatriotas que fogem do país em busca de liberdade.
Embora o título do filme já sirva como spoiler, somente depois de uns bons oitenta minutos ele revela vagamente como tudo fazia parte do plano da Rede Vespa, criada pelo governo de Fidel Castro, para monitorar a ação de organizações violentas responsáveis por ataques terroristas em pontos turísticos da ilha.
A ideia é abordar essa teia que foi tecida durante o período pós-Guerra Fria, quando espionagem e contra-espionagem eram descaradamente os principais motores desse tipo de monitoramento internacional.
O que parece ser pano pra manga de uma série inteirinha, acaba por se reduzir a uma obra desorganizada, obrigando o espectador a permanecer exaustivamente atento a detalhes que sequer existem, com medo de se perder no enredo.
Uma infinidade de contextos paralelos e pouco aprofundados são ligados pela péssima montagem que só serve para irritar o espectador. Embora haja algumas premissas interessantes em parte dessa relação entre Cuba e Estados Unidos, o diretor peca ao descontrolar a evolução do filme e permanece em cima de um muro que nos confunde com relação ao que foi registrado pelos livros de História.
O mais irônico é que isso tudo parece cansativo pelas duas horas, ao mesmo tempo em que soa curto pelo emaranhado de propostas. Apesar do elenco de peso, não houve espaço para o desenvolvimento das personagens, com menção honrosa à Penélope Cruz e Ana de Armas, ambas se destacando nas migalhas que o roteiro lhes proporcionam, em um contexto tosco de mulheres coitadinhas abandonadas pelos conjes. Não há português que traduza tamanho potencial jogado na lata do lixo.
É preciso pontuar, ainda, que a obra passa por diversos gêneros distintos sem causar muita empolgação em qualquer um deles. Não há quase nada de tensão, de ação, de drama, de suspense, mas há um pouco de tudo. Pau mole do início ao fim.
O fator atraente de Wasp Network: Rede de Espiões é a inegável qualidade visual ao recriar algumas paisagens paradisíacas usufruídas pelo turista em Havana, mas sem desfocar a posição de privilégios usurpados dos cubanos em seu dia a dia. A realidade pomposa de Miami também é visualmente sedutora.
No mais, aquilo tudo que não pode faltar: homens que colocam uma ideia turva de pátria acima da própria família, defesa do socialismo cubano regada a muita Piña Colada em Miami, ausência de limites na profusão do imperialismo americano, algumas toneladas de cocaína pra fazer caixa, slogan de liberdade através do medo e cena de Wagner Moura e Ana de Armas pelados.
Eu shippo esse casal.
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