Crítica: The Old Guard

Uma crítica muito comum ao gênero da ação é que sua prioridade jamais é se contar uma boa história, mas, sim, construir um mundo no qual cenas espetaculares de violência plástica possam ser apreciadas despudoradamente por idiotas como eu. De vez em quando, acontece de um filme do gênero conseguir quebrar esse paradigma do roteiro merda e, curiosamente, duas das vezes em que isso ocorreu recentemente foram em filmes estrelados por Charlize Theron, no bom “Atômica” (que indicamos em nosso Garimpo Netflix #71) e na obra-prima que é “Mad Max: Estrada da Fúria”.

The Old Guard, contudo, não repete o mesmo cuidado com a narrativa que os anteriores, pegando uma premissa até interessante e fazendo seu desenvolvimento de uma maneira porca, preguiçosa e, até certo ponto, lastimável diante do potencial da obra. Este potencial, inclusive, se mostra claramente em duas cenas dramáticas que, a priori, não tem lugar em filmes de ação como este. Eu honestamente não lembro da última vez que chorei vendo um filme do gênero, mas são inegavelmente tocantes os momentos em que um imortal declara seu amor verdadeira e literalmente eterno a outro imortal e o outro em que um terceiro sujeito que não pode morrer explica a melancolia e a culpa de sobreviver à quem se ama.

São justamente essas duas cenas que elevam este filme a mais do que somente a ação genérica no que se refere ao roteiro, e elas só conseguem o impacto que têm por causa do elenco. Além dos conhecidos Charlize e Chiwetel Ejiofor, o grupo principal é formado por um cast internacional que conta com gente de uma densidade dramatúrgica que costuma ficar longe do gênero da ação. Matthias Schoenaerts, Marwan Kenzari e Luca Marinelli trazem peso ao grupo que protagoniza a trama e isso faz diferença.

O problema, contudo, é que o roteiro realmente não acompanha. Há um vilão caricato e burro, um método absolutamente estapafúrdio, contraproducente e desnecessariamente violento para conseguir seus objetivos nefastos e toda uma volta esdrúxula para se chegar a um resultado que eu, que sou um idiota como já estabeleci lá em cima, teria resolvido no primeiro minuto do filme. Isso tudo, ao final da exibição, deixa um incômodo absurdo no espectador.

Pior que isso é a trilha sonora. É uma coisa inacreditável como permitiram que alguém usasse as canções que foram usadas como trilha para determinadas cenas de ação. Foi obviamente uma decisão de produção, mas, sem entrar no mérito da qualidade das músicas (e elas são horríveis), as faixas escolhidas simplesmente destoam PARA CARALHO do que está sendo mostrado e do tom da história. É um negócio inexplicável de verdade, que parece tentar tornar momentos do filme naqueles vídeos chatíssimos de YouTube em que algum fã pega uma cena legal de um filme e bota uma música que ele (e só ele) gosta por cima.

Dito tudo isso, a razão de ser de um filme de ação, sua proposta, é sempre a mesma: entreter com violência estilizada. E isso é cumprido com louvor. A história de um grupo de imortais mercenários que enfrenta uma ameaça à sua própria existência é cheia de momentos de ação muito bem coreografados e executados, criando ainda uma semi-mitologia para tudo aquilo que ajuda bastante na diversão que o título traz ao espectador. Todos os problemas do filme não apagam essa questão, que é o que de fato importa.

De todo modo, a sensação de potencial desperdiçado permeia toda a obra, dando a impressão de que muitos de seus erros poderiam ter sido evitados com até certa facilidade. Fica, inclusive, a minha torcida para que eles sejam corrigidos na sequência que a ceninha marota pós-créditos praticamente implora para que aconteça.

Seja como for, felizmente a película segue sendo entretenimento de boa qualidade no que se propõe, chegando até mesmo a ir um pouco além em alguns momentos.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.