Garimpo Netflix #76
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Adentramos mais uma semana da Turnê do Fim do Mundo e se você tem o privilégio de ficar em casa (o que, convenhamos, está cada vez mais difícil de enxergar como privilégio, mas de fato é) tem aqui nesse espaço a já tradicional regalia em forma de seleção do melhor a ser visto nessa vastidão que é o catálogo da Netflix.
Portanto, se você sobreviveu à maior pandemia em um século, não foi engolido por uma nuvem de gafanhotos e ainda escapou de um ciclone extra-tropical, fique com a seleção desta semana!
– Amor sem Escalas (Up in The Air) de 2009, dirigido por Jason Reitman
Desde há muito tempo, eu e meu amigo e editor-chefe deste site, Gustavo David, estabelecemos a tese de que todo e qualquer filme com a palavra “amor” no título é uma merda, assunto que ele abordou mais longamente no artigo dele sobre “Um Amor em Toda Esquina. Nossa tese científica se escorava em uma torrente de comédias românticas e dramas mela-cueca lançados no início dos anos 2000, uma verdadeira praga iniciada no cinema americano e replicada por aqui. Portanto, foi com clara desconfiança que fui assistir pela primeira vez esse Amor Sem Escalas, somente para me surpreender e reforçar a estupidez do meu preconceito (aliás, todo preconceito é estúpido). Talvez seja coincidência o fato do título original não ter nada de “amor”.
O filme é bem interessante e se escora fundamentalmente no bom personagem Ryan Bingham (George Clooney), que voa pelo país demitindo pessoas. Sua rotina é interrompida pela chegada de Natalie (Anna Kendrick), que acha que as viagens são desnecessárias e que o inusitado trabalho dos dois pode ser feito por videoconferência. Isso acaba afetando o estilo de vida consolidado que o protagonista tinha estabelecido pra si mesmo e aos poucos ele percebe que algumas de suas escolhas de vida foram bem equivocadas.
Um filme leve, redondo e bem agradável, que nos traz um Clooney afiado dentro de seu estilo, além de ter sido indicado a vários Oscars. Aproveite!
– Aquarius, de 2016, dirigido por Kleber Mendonça Filho
Alguns anos antes de co-dirigir sua obra maior com Juliano Dornelles (aliás, você já assistiu Bacurau?!), Kléber Mendonça Filho nos trouxe essa bela obra. Nela, Clara (Sonia Braga), uma viúva de idade avançada e crítica de música aposentada, é a última moradora do edifício que dá nome ao filme, um dos poucos prédios tradicionais que permanece à beira-mar em Recife. Agora que os outros apartamentos foram vendidos a uma empreiteira com planos modernosos de reforma, Clara passa a ser pressionada por todos os lados para deixar seu apartamento, testemunha silenciosa de toda a sua vida. Mas ela prometeu a si mesma sair dali apenas após a morte e entrará em uma verdadeira guerra fria com os empreendedores para manter seu imóvel e, com ele, sua história e memória.
O confronto resultante é misterioso, assustador e estressante, atingindo um ápice inesperado. Aquarius é peça-chave e bela na já consolidada filmografia de Kléber Mendonça e, como todos seus outros filmes, fala sobre resistência. Ainda que a batalha seja inglória e antecipadamente perdida. Vale muito sua atenção.
– O Desaparecimento de Madeleine McCann (The Disappereance of Madeleine McCann), de 2019
“Ninguém desaparece na Praia da Luz” diz em certo momento uma das personagens desse documentário sobre um dos desaparecimentos mais midiáticos e intrigantes de que se tem notícia. De fato, neste balneário português do Algarve, muito frequentado por famílias britânicas, reinava a paz e tranquilidade e um histórico de violência perto do zero. No entanto, isso foi bruscamente subvertido na noite de 3 de Maio de 2007.
Enquanto seus pais jantavam em um restaurante dentro de um luxuoso resort a poucos metros dali, sua filha Madeleine McCann desapareceu do quarto onde dormia com seus irmãos menores e imediatamente se tornou o caso de desaparecimento mais relatado na história moderna. Nesta longa e densa série documental vemos cada desdobramento deste misterioso caso, com todas suas idas e vindas – em certo momento os próprios pais da criança são declarados suspeitos – além de todas as implicações que vão desde teorias estapafúrdias até uma verdadeira guerra de narrativas das imprensas dos dois países envolvidos nas buscas, Portugal e Reino Unido.
O paradeiro de Madeleine permanece desconhecido e em Junho deste ano um novo suspeito foi preso na Alemanha, levando promotores alemães a declararem que, muito provavelmente, ela está morta. No entanto, ao assistir esse documentário, ficamos com a impressão de que a imagem dessa menina seguirá viva no imaginário coletivo para sempre. Assista!
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