Crítica: Goedam

Cada vez mais os k-doramas se tornam populares e acessíveis no Brasil. K (vindo de Korea – Coréia) e dorama de “drama” são séries televisivas produzidas na Coréia do Sul, que contam com diversos gêneros. Em geral, séries de 16 episódios com 1h cada, os doramas tendem a mergulhar em universos românticos, não deixando de pincelar um suspense, mistério, drama ou ação. Diferente desse formato, porém, estréia na Netflix um dorama de apenas 8 episódios com duração média de 10 minutos cada. Sem nada de romance e com tudo de terror, Goedam é a pedida da vez do amante deste gênero.

Os oito episódios são independentes entre si (tendo três deles, porém, uma conexão de local e personagens) e contam curtas histórias com base em lendas urbanas da Coréia. Com duração entre 8 e 15 minutos, os capítulos mergulham na sensação pura do terror, em muitos casos não observando qualquer desenvolvimento de personagens, sendo o foco principal narrativo a tensão e o medo gerados pelo conto aterrorizante. Alguns pecam por serem simples demais na construção, mas outros conseguem se utilizar dos poucos minutos para envolver o espectador e manter o medo em quem assiste. Assustador, no entanto, todos são. Essa é uma marca do horror asiático.

Escola: o palco do terror.

Os dois primeiros episódios, “Fenda” e “Destino”, estão mais no terror pelo terror do que numa estrutura narrativa mais trabalhada. Focam na situação por si só, sem perderem tempo de contextualização ou construção de personagens. Aqui temos dois casos semelhantes de uma entidade perseguindo seu alvo: no primeiro, a situação acontece em uma escola de mulheres; no segundo, dentro de um táxi, a procurar um destino desconhecido. Apesar de abaixo da média dos demais, a abertura desses dois episódios não deve tirar o interesse do espectador. O que se seguirá vai ficando cada vez melhor.

“Invasor” traz uma roupagem bastante atual ao colocar uma espécie de “youtuber” em uma live de seu canal, enquanto objetos de seu quarto vão se mexendo sozinhos. Tentando obter mais e mais views em sua publicação, a personagem começa a perceber uma influência paranormal em seu quarto. Aqui, sim, teríamos alguns assuntos a serem analisados, pois o episódio consegue integrar diversos temas e ligá-los em uma estrutura de terror, ainda que somente em 9 minutos de exibição. O mesmo acontece em “Curiosidade”, que volta à escola do episódio “Fenda” para contar uma história mais interessante, mas com a mesma estrutura de assombrações que perseguem os vivos. Porém, aqui a forma como o diretor vai desenvolvendo a narrativa é mais envolvente e tensa do que seu predecessor.

E isso vale quantos views…?

“Sapatos Vermelhos” conclui a série escolar, também passado na mesma Instituição. Esse é uma continuação direta do episódio de abertura “Fenda”, no qual a vítima deste ressurge como algoz naqueles mesmos corredores longos, frios e assustadores. Uma interessante história de uma assombração nova que tenta se adaptar ao seu universo próprio de terror. Seguido por “Dimensão”, que é um dos melhores da série: um policial investiga um corpo que aparecera, em plena decomposição, em um elevador. Descobrindo um manual de instruções para entrar em outra dimensão a partir do elevador, o investigador adentra um universo obscuro no qual terá que lutar para sobreviver… ao menos naquele mundo paralelo que fora criado. Muito bem dirigido e contado, este episódio é um dos meus preferidos.

“Soleira” já é um daqueles mais simples, mas que trazem elementos que nos deixam com vontade de mais. A forma como o terror é colocado, em seus 8 minutos, vale muito mais pelos elementos iniciais do que pela realização em si. Sua execução, no entanto, o coloca na linha de baixo no conjunto da obra. Fechando com “Nascimento”, talvez o melhor de todos, Goedam nos apresenta a história de um xamã, ao executar um ritual bizarro (e, aparentemente, real nesta cultura) de se manter presa uma criança, deixá-la no limite da vida para, então, sacrificá-la e conseguir usar sua alma a seu serviço. Esta alma, porém, começa a enlouquecer a xamã, que vai se fundindo cada vez mais com o ser sacrificado. A mais longa das histórias, com seus 15 minutos, consegue profundidade, medo, tensão e uma realização plena de significados.

Eles estão sempre te observando.

Se você, como eu, é aquele que sempre gosta de preencher sua semana com uma dose de Cinema de terror, Goedam funciona e funciona muito bem. Mesmo aqueles episódios que não engatam guardam em si a sensação do terror, do medo, da tensão que é o motivo pelo qual buscamos esses títulos. Uns vão além, com seus elementos e construções mais bem lapidadas. Os demais, que ficam na simplicidade do terror pelo terror, não deixam a desejar, sendo, no geral, muito melhor do que aquelas batidas e iguais histórias de terror americanas.

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