Crítica: A Maldição da Ponte (The Bridge Curse)

Há muitos anos, quando eu tinha lá meus 20 anos, eu aluguei o DVD (ou teria sido um VHS?) da obra que viria a se tornar a minha favorita, sendo desafiada tão somente pela sua continuação e também pelo fabuloso “Seppuku” no topo da minha lista de filmes preferidos: “O Poderoso Chefão”. Após ler tudo que podia a respeito, tatuar no meu corpo e adquirir diversos itens de decoração, ontem eu me dei conta que já fazia uns 10 anos que eu não revia o filme. Essa lembrança me veio justamente porque eu, enquanto profissional que trabalha com tradução em geral e também com legendas, recebi a missão de revisar uma nova legendagem para o “O Poderoso Chefão 2”. Foi então que, antes de começar esse verdadeiro trabalho dos sonhos, eu resolvi primeiro ver o filme original, e foi assim que passei a minha noite de ontem.

Por 3 horas eu fiquei preso naquela narrativa, dissecando a película com um olhar mais maduro e experimentado por tantas outras obras, procurando falhas, tentando achar algo de errado e falhando miseravelmente. “O Poderoso Chefão” continua sendo um filme extraordinário, perfeito em forma e conteúdo, sem erros, com um roteiro magistral, interpretações espetaculares e uma direção brilhante.

Foi por causa de “O Poderoso Chefão” que nós decidimos aqui no site criar uma espécie de nota específica para obras-primas, para filmes que conseguem não só ser perfeitos, como também ir além. Nos quase cinco anos de MetaFictions, a cobiçada (sabe-se lá por quem) claquete dourada só foi dada a “Mãe!” (sob protestos, conforme vocês podem ver no link) e “Parasita“, mas certamente as duas primeiras partes da trilogia Corleone receberiam a mesma honraria.

Esse é aquele momento em que você talvez esteja se perguntando exatamente por que estou falando tanto de “O Poderoso Chefão” e não fazendo uma crítica sobre A Maldição da Ponte. A resposta é simples. Eu vi os dois no mesmo dia, o que fez com que a sofridíssima experiência de assistir essa desgraça que é A Maldição da Ponte se tornasse ainda mais insuportável em contraste à obra-prima que vi depois. A Maldição da Ponte é, portanto, a total antítese do que é “O Poderoso Chefão”. Você pode inclusive pegar todos os adjetivos que usei para descrever o filme do Coppola e jogar no Google com a palavra “antônimo” ao lado. Pronto, agora você já sabe minha opinião sobre A Maldição da Ponte.

Contudo, sabendo que eu mesmo não me daria a esse trabalho, vou falar um pouco do filme. É ruim. Muito ruim. Não diz nada, não traz nada, não suscita qualquer tipo de emoção no espectador, é mal atuado, mal dirigido, tem uma fotografia que não faz sentido, créditos que demoram 6 minutos até o filme começar efetivamente, um roteiro bobo toda vida e uma motivação que alguém deve ter encontrado no vaso depois de uma noite particularmente pesada de bebedeira.

Eu não sei se há aqui uma questão cultural que me é inalcançável por eu não ser chinês e muito menos taiwanês que talvez justifique os rumos do roteiro ou tragam alguma cor ao filme, mas eu, brasileiro nascido e criado no Rio de Janeiro, só vi uma história de 5 jovens adultos bem clichezentos de filme de terror ocidental e, portanto, retardados, correndo de uma assombração bizarra o filme todo enquanto uma repórter investiga os acontecimentos num truque de roteiro que quer ser engenhoso, mas só é patético mesmo. E é só. Não tem desenvolvimento de personagem e nem de história. Poderia ser um clipe musical com cenas de gente morrendo de forma sem graça que provavelmente teria sido melhor se a música fosse boa.

Enfim, caso não tenha ficado claro, a Netflix tem toda a trilogia da família Corleone em seu catálogo. São aí 6 horas em dois filmes acima de qualquer crítica e mais 3 horas de um que ainda é bom para um caralho, mas não tão bom quanto os dois primeiros. Já A Maldição da Ponte tem pouco mais de uma hora e meia que eu adoraria ter de volta.

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