Crítica: Na Solidão da Noite (Raat Akeli Hai)

Assim como em tantos outros filmes de investigação criminal que eu definitivamente tenho pouquíssima paciência para assistir, Na Solidão da Noite parte daquela premissa clássica do “Quem matou Lineu?”: um corpo e uma porrada de suspeitos. Thakur Raghubeer Singh, um poderoso empresário indiano, foi baleado e coronhado durante a sua noite de núpcias e há tantos potenciais assassinos quanto membros da família, quase todos eles com algum motivo pra dar fim ao velho. É quando entra em cena a figura do investigador Jatil Yadav, o protagonista do filme. O policial eternamente rejeitado por noivas em potencial, é a figura do agente da lei honesto e aficionado pela busca de todos os elementos do quebra-cabeça.

Com diversas camadas, a história é cheia de reviravoltas que buscam fazer com que o espectador duvide de todas as partes em algum contexto específico. O roteiro caminha em seu próprio ritmo para desembaraçar a teia, afinal de contas, são quase duas horas e meia de filme, e só depois de um tempo considerável é possível perceber que encontrar o criminoso não é a única coisa que realmente interessa nessa história.

O diretor Honey Trehan se utiliza muito bem dos elementos de tensão para emoldurar um duro retrato do patriarcado. As figuras masculinas do filme oscilam entre autoridades intocáveis a estupradores, traficantes de pessoas e assassinos. Já as mulheres, independentemente do seu status de esposa rica, vassala da família ou prostituta, são alegorias, meios para a reprodução desse poder, sempre abusadas e intimidadas de acordo com a conveniência.

O roteiro vai se tornando mais pesado conforme os corpos vão se amontoando e as demonstrações de ganância, corrupção, politicagem e imoralidade vão sendo nutridas e trazendo consequências práticas dentro daquelas relações.

Somos constantemente apresentados à facetas obscuras de personagens que sempre parecem estar escondendo alguma coisa. O casarão dos Thakur, com longos corredores, panos esticados, escadas nos fundos e decorações luxuosas, é uma grande personagem por si só. É lá que as mulheres parecem enclausuradas numa espécie de masmorra travestida.

O relacionamento entre o investigador Jatil e sua mãe, interpretada por Ila Arun, fornece os poucos tons de humor do filme. Tudo o que ela quer é que ele se case e o policial está determinado a encontrar uma moça decente, mas, evidentemente, durante o curso das investigações, esse conceito de “decência” vai sofrendo algumas flexibilizações um tanto quanto previsíveis, permitindo que uma atmosfera de romance fosse desabrochada.

Na Solidão da Noite é uma tentativa sincera de enigma de detetive, mas se preocupa muito mais em escancarar pistas do que nos brindar com um suspense fora da caixinha. Tudo é extremamente mastigado, não havendo margem para um pingo de mistério ou ambiguidade quando as letrinhas sobem no final. A maneira com que entrelaça política e relações de abuso com o enredo central da investigação é apreciável, mas o filme peca pela vasta lista de clichês, pela falta de relevância de vários personagens e por uma edição tão expositiva que me chegou a dar saudades dos episódios do “Linha Direta”.

Aquele programa sim era tenso.

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