Crítica: A Prima Sofia (Une fille facile)
Sabe aquela comedinha romântica tipicamente americana na qual a chegada de uma pessoa rica ao protagonista o faz mudar completamente sua forma de agir, chegando até a abandonar o BFF, com quem sempre tivera a melhor relação possível? Mas depois o personagem se dá conta do que estava a fazer, cai em si e retorna ao tipo que sempre fora. Parece bastante comum a história. E definitivamente é. Mas agregue a isso uma forte pitada de tempero francês, muita nudez e boca na botija e aí você chegará próximo do que A Prima Sofia pode te oferecer.
Naïma (Mina Farid) tem 16 anos e vive em Cannes, onde passa a maior parte do tempo com seu melhor amigo, Dodo (Lakdhar Dridi). Saída de um relacionamento que não dera certo, Naïma insiste em acreditar que sua relação com o BFF a satisfaz plenamente, não necessitando de outro tipo de amor. No entanto, sua perspectiva sobre as coisas começa a mudar quando da chegada de Sofia (Zahia Dehar), sua prima de 22 anos, cujo estilo de vida é deveras peculiar. Começando a sacrificar seus dias com Dodo para piruetar com Sofia, Naïma percebe que a badalada prima curte um sexo descompromissado com homens ricos, que têm por costume agraciá-la com presentes caríssimos. Repare que ela não é prostitua: ela transa por prazer, por diversão e, de quebra, ganha seus agrados com altos números de euros. Esse modo de viver um tanto quanto desafiador vai, aos poucos, seduzindo nossa protagonista, que passa a querer agir cada vez mais parecido com Sofia.

A pitada francesa transformou a sinopse da comédia romântica americana em um filme sensual, sexual, mas que poderia tratar com profundidade o processo de amadurecimento de uma adolescente. No entanto, como é típico em alguns filmes da França, o desenvolvimento fica no meio do caminho e a história não chega a lugar nenhum. A relação de amizade com Dodo, a todo instante colocada em cheque por uma amiga atraída por um novo estilo de vida, jamais nos deixa tensos em relação ao que Naïme promove ao amigo, visto que ele está pronto para perdoar imediatamente. Portanto, nada ali causa qualquer sensação. Além disso, o foco principal da narrativa, que é o estilo desafiador de Sofia entrando no mundo ingênuo da protagonista, também fica pelo meio do caminho. Depois de muito tempo de história, ela dá uma arriscada, um passo em falso, para tentar mergulhar naquele universo adulto, mas tampouco algo acontece. É um conto que fica muito mais no imaginário do que na realidade; nas percepções do que nas ações.
Até que isso seria uma boa história a se contar. Mas tampouco por esse caminho o filme percorre. Os conflitos que surgem são rapidamente resolvidos. Não causam impacto nem nos personagens, nem no espectador. Por outro lado, os protagonistas não são os mais carismáticos possíveis e sabemos muito pouco sobre cada qual para criarmos uma imediata, ou até posterior, relação, identificação, que nos fizesse mergulhar no conto, tal qual Naïme quisera adentrar no mundo particular de sua prima. Uma narrativa – como de costume no cinema francês – que prefere causar com algumas cenas mais polêmicas (como colocar Sofia quase a todo momento de topless, ou biquíni cavado ou bundinha nua para cima) e umas sequências mais quentes de sexo (mas que também ficam pelo meio do caminho, porque não atravessam a “porta entreaberta”) do que com um enredo devidamente forte e delicadamente lapidado para ser construído por si só.

Como costumo dizer, quando as produções são de lá, é um filme tipicamente francês – e isso, para mim, não é elogio. Tem seus momentos, tem seu interesse, mas peca por querer causar sem ser. Peca por bancar uma onda de que vai além, mas caindo pelo meio do caminho. Apesar de sabermos sobre o que a obra trata e percebermos toda a construção por trás da narrativa, não chegamos a lugar nenhum ao assisti-la. Não nos traz nada de significativo. Como a prima Sofia que veio sem avisar e foi embora sem um “até logo”, assim fica A Prima Sofia, que veio, passou e nos deixou na mesma.
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