Crítica: The Umbrella Academy - 2a Temporada

O que é, o que é? Tem super-herói, macaco que fala, viagem no tempo, fantasma, teoria da conspiração, trauma de infância, e fim do mundo… se você chutou “uma viagem de LSD” também acertou, mas, nesse caso, eu me referia à segunda temporada da série The Umbrella Academy, adaptação da Netflix para o quadrinho homônimo criado pelo brasileiro Gabriel Bá e Gerard Way, cantor da banda emocore My Chemical Romance. Se você não assistiu à primeira temporada e se, em especial, não leu o gibi que deu origem à série, para tudo e vai lá agora. Mas é agora! Porque é bom bagarai.

A série, que não é exatamente igual aos quadrinhos, mas tem o mesmo “tom” e consegue ser uma das melhores adaptações de HQ pra audiovisual que eu já vi, é um grande balaio-de-gato de referências “pop” estranhas que devem povoar a cabeça piroca das idéias de Gerard Way, roteirista do gibi. Temos todo o tipo de tema presente em canções “emo”: daddy issues, dórgas, complexos, delírios de grandeza, corações eternamente partidos, morte, depressão, questões de identidade, tudo isso polvilhado sobre uma divertidíssima historinha pra meninos/nas/nes no início da adolescência. É uma dessas aventuras de corrida contra o tempo em que nossos heróis têm uma semana para salvar o mundo do apocalipse. De novo!

Nesse segundo capítulo da bizarra saga dos irmãos adotivos mais fodidos psicologicamente do mundo dos quadrinhos, começamos exatamente onde a primeira temporada terminou. Number Five teleporta seus irmãos por um vórtice temporal instantes após Vanya despedaçar a lua e arrastar um gigantesco fragmento de nosso satélite natural contra a superfície da terra, extinguindo toda a vida no planeta. Yep! Eu contei o final da primeira temporada. Oops! Spoiler alert! Eu falei pra você parar de ler e ir ver a porra da primeira temporada! Se você já viu, ignore que o esporrinho não é pra você, e vem comigo porque a parada vai ficar divertida.

Acontece que Number Five (como todos os seus irmãos) não sabe controlar seus poderes porque seu pai, Sir Reginald Hargreeves, era desses pais escrotos e abusivos que esperava que os filhos se tornassem heróis que salvariam o mundo tratando-os como o cocô do cavalo do bandido com a intenção de que eles crescessem mais rápido e ficassem mais fortes. Aquele raciocínio babaca de que criação rígida constrói caráter e faz crescer cabelo no peito. Number Five leva seus irmãos para Dallas, Texas, espalhando-os, sem querer, cada um em um momento aleatório do início dos anos 60. Esses precisam se adaptar àquele período histórico de mudanças sociais e culturais para sobreviver. Esse fato sozinho já rende momentos divertidíssimos onde Klaus, gay, junkie inveterado, e que fala com fantasmas, se torna líder de um culto espiritual riponga, Allison, após ter suas cordas vocais cortadas por Vanya no fim da primeira temporada, se une a um movimento que luta por direitos civis numa época em que a segregação racial no sul dos Estados Unidos era a norma, a própria Vanya é atropelada instantes após aterrissar naquele tempo e perde a memória, sendo resgatada pela família que a atropelou, Luther, o brucutu meio-macaco vira leão de chácara de uma boate de strip e boxeador de luta underground, e Diego é internado – finalmente! – numa clínica psiquiátrica.

Number Five, o último a aparecer no Texas nos dias que se seguiram ao assassinato do presidente Kennedy, encontra uma guerra entre os Estados Unidos e a União Soviética, minutos antes dum holocausto nuclear, e é ajudado por um velho “amigo” que se sacrifica para entregar-lhe uma mala e uma mensagem secreta. Cabe a ele, de novo, tentar reunir seus irmãos instáveis mas super-poderosos pra impedirem que os retardados mentais que governam as duas maiores potências do planeta joguem a tal Bomba H e apaguem todo mundo do mapa. E se lidar com a total ausência de inteligência emocional de sua própria família não fosse o bastante, o menininho de 60 anos precisa enfrentar 3 irmãos suecos enviados pela Comissão para assassiná-los, enquanto a própria Comissão passa por uma re-engenharia interna. Ufa! E eu falei apenas do primeiro episódio!

Para mim o ponto alto da temporada foi Ben, o irmão morto que acompanha o grupo como um fantasma que assombra Klaus, e que aqui descobrimos ser o mais maduro e equilibrado da família. Ben é mostrado com grande delicadeza e produz os momentos mais emocionantes dessa segunda parte da história, sendo o catalisador de várias mudanças na história de seus irmãos. O que, aliás, talvez tenha sido o ponto fraco de primeira temporada – a superficialidade com que vários dos personagens são elaborados -, na segunda temos os heróis da Umbrella Academy sendo levados em uma viagem para dentro de si mesmos, para dentro da história de sua própria família, com reencontros emocionantes, desses corta-pulso de letra emo de 15 anos atrás, situações hilárias e muita ação no melhor estilo “aventura de Sessão da Tarde”, só que com todas as importantíssimas questões pertinentes para esse não menos bizarro ano de 2020. Na boa, assista e prepare-se pra maratonar com muita pipoca-com-guaraná (ou cervezarita como fizemos eu e minha esposa, apesar de sermos gluten-free) e se divertir até o último instante com muita, mas muita viagem na maionese. E, sim, o gancho pra terceira temporada está lá, firme e forte, como não poderia deixar de ser.

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