Crítica: #alive (#Saraitda)

Não deve fazer muito tempo que debatemos aqui acerca da mitologia zumbi e o quanto isso foi abordado pela cinematografia, bem como o resgate do assunto atualmente, que gerou um sem-número de produções. Tivemos, inclusive, quadro de Garimpo atendendo a esta onda sempre muito bem-vinda. Mas chega uma hora que nos perguntamos: será que ainda há o que se abordar a respeito? Ou vai chover no molhado? Mas aí, quando você está prestes a perder o encanto, vem um filme chamado “Invasão Zumbi” (presente no acervo da Netflix), da Coréia do Sul, e que te deixa estupefato. Tão elogiado a ponto de uma sequência estar para sair. E, então, no meio dos dois, a mesma Coréia do Sul lança agora, pelo streaming, mais um título com esse foco: #alive.

Todo ceticismo em relação ao que de novo esta experiência poderia trazer foi barrado pela certeza plena e convicção de que a Coréia do Sul é um modelo cinematográfico a ser seguido (e cultural também). O título do filme #alive (#vivo em tradução livre) já nos mostra que será um filme de sobrevivente em meio a um caos zumbi. Nesse sentido, temos, pelo menos, uns 56 mil filmes; mas há sempre espaço para o modo como a narrativa será tratada. A obra já começa com o caos rolando nas ruas e Oh Joon-woo (em boa atuação de Ah-In Yoo), sozinho em casa, perdido diante do que ocorre. Sem conseguir muito contato com os pais e a irmã, que estão fora, ele se vê isolado em suas ações que têm por objetivo uma ordem expressa de sua amada mãe: “sobreviva!”.

Boa parte do filme, portanto, é ele preso em casa tentando sobreviver e se utilizando das redes sociais para pedidos de socorro ou para aprender com a experiência dos outros, enquanto os servidores ainda funcionam. Logo, ele descobre uma vizinha, Kim Yoo-bin (Shin-Hye Park, do dorama “Herdeiros”), no bloco de apartamentos à frente, que está nas mesmas condições que ele. E, assim, os dois vão tentando, em uma ajuda mútua, criar situações para que consigam atravessar as situações. Em épocas de quarentena, o filme começa a dizer muito mais a cada um de nós, visto que ele é obrigado a ficar em casa para se proteger. Porém, a escassez de gêneros essenciais e o perigo da chegada do problema, que bate à porta, tornam insustentável, dia após dia, a permanência na bolha individual.

O filme, portanto, vai investindo muito mais nos aspectos humanos da trama do que na perseguição zumbi pura e simplesmente. A maior parte do tempo, inclusive, é usada para um passeio sobre os sentimentos do personagem e suas relações, tanto familiares quanto com a nova amiga sobrevivente à frente. Sem sair de casa, sem trazer flashbacks, o espectador vai construindo a história desse protagonista a partir dos elementos de frustração que ele vai liberando cada vez mais. O que, de fato, é necessário ao ser humano se torna, portanto, o que de mais significativo o filme tem a oferecer, utilizando-se dos zumbis apenas como ilustração de uma situação de caos. Se você acha que a produção é só mais uma história de zumbis como outra qualquer, talvez não tenha permitido ser tocado pela sensibilidade das introspecções de Oh Joon-woo.

Lindamente fotografado, o que me parece ser senso comum na Coréia do Sul, as sequência muito bem dirigidas por Il Cho nos colocam lado a lado com Oh Joon-woo, mantendo uma tensão sempre presente, sem se tornar um filme de ação com pouca profundidade. Pelo contrário. O que temos aqui é uma bela obra sobre a sobrevivência não só física de um ser humano, mas sobretudo a emocional. O que os diferencia dos zumbis comedores de carne não é a inteligência, a civilidade ou as características físicas, mas os sentimentos que eles ainda conseguem guardar.

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