Crítica: Dragon's Dogma
É de conhecimento popular que os videogames são o troço mais rentável do mundo, mas eu ainda me pego surpreso ao me deparar com séries produzidas a partir de um deles. Eu sei que não é nenhuma novidade, que “Resident Evil” e “Tomb Raider” estão aí de prova, mas quando um jogo de RPG “mazomeno” obscuro – com uma versão online lançada apenas pro mercado japonês já cancelada ano passado – aparece nos lançamentos da semana da Netflix, eu fico meio, sei lá, me perguntando se as ideias pra séries acabaram. Dragon’s Dogma é, como eu disse, a adaptação do videogame homônimo lançado pela Capcom, mãe de clássicos como “Mega Man”, “Street Fighter” e o também supracitado “Resident Evil”. Que a empresa sabe fazer jogo é incontestável e, convenhamos, a interminável franquia cinematográfica encabeçada por Milla Jovovich no papel de Alice matando os zumbis mais bizarros do universo é uma bosta mas é legal. Mas será que o anime presta?
Quero deixar bem claro antes de começarmos essa conversa que eu nunca joguei nenhuma das versões do jogo (são duas pra console e uma online) e não tinha absolutamente nenhuma informação a respeito antes de ver a série. Vou ater minha crítica ao meu conhecimento prévio de RPGs (boa parte de papel e dado), bem como várias décadas consumindo tudo o que tem castelo, espada e dragão na cultura pop mundial.
Dragon’s Dogma dá uma revisitada na boa e velha história do dragão maligno e enormemente poderoso que destrói cidades e mata pessoas sem nenhuma razão aparente, trazendo o medo e o desespero por onde passa. Em um desses ataques, o tal dragão destrói a pacifica vilazinha de pescadores onde moravam Ethan e sua esposa grávida. Não acho que é exatamente um spoiler dizer que logo no primeiro episódio a esposa morre no ataque e Ethan, tentando protegê-la e falhando miseravelmente, não apenas é detonado pelo monstro, mas tem seu coração arrancado. Ethan retorna como um Ressurgido (título que todo mundo no mundo parece conhecer menos Ethan e você, já que o que diabos é um Ressurgido jamais fica claro) ao ser curado por uma moça meio anjo meio elfa, que se apresenta apenas como sendo um Peão, cuja função é protegê-lo (e, de novo, se você não jogou o jogo, isso é tudo o que você fica sabendo sobre a tal moça). É claro que o camarada entra numa marcha desenfreada em busca de vingança contra a criatura que destruiu seu coração (literal e figurativamente).
Absolutamente nada muito criativo até aqui, mas também nada de ruim. A série em 7 episódios curtinhos (com durações que vão de uns 19 minutos a meia hora dependendo do episódio) tem os 7 pecados capitais como título e tema para cada um dos episódios. A ideia começa bem, mas se perde rápido com várias forçadas de barra pra que Ethan se depare com exemplos de cada um dos 7 pecados em sua jornada por vingança. E essa “regrinha” meio que torna o final da temporada um tanto previsível. A aventura em si é divertida, com a presença de vários monstros clássicos de RPG bastante bem representados, além dos tradicionais sangue, porrada e peitinho gratuitos em cada esquina.
Podia ter sido bom, e o que me desanimou, confesso, não foi nem a previsibilidade nem os engasgos de roteiro, mas o fato de a estética ter ficado próxima demais de um cinematic, com os monstros em 3D mal renderizados e personagens duros e inexpressivos. Os cenários, o design dos personagens, itens, roupas e o dragãozão com cara diabo foram bem maneiros, mas a realização final poderia ter tido um pouco mais de esmero. Talvez tenha sido proposital, para atrair os jogadores do game, mas dá a sensação de que fizeram um simples edit das animações de algum jogo e botaram no ar. Se você desconhece a referência original, dá um gosto meio meh. A pergunta que fica é: você jogou o game? Você curte anime só por ser anime? Ou curte qualquer coisa que te remeta às tardes de sábado jogando D&D? Se sim, pode ver que tá valendo. Não espere, no entanto, que vá revolucionar sua vida, mas sendo uma temporada tão curta, por que não assistir?
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