Crítica: Bronx
Eu me sinto obrigado a começar essa crítica falando de um negócio que me incomodou PARA CARALHO ao longo do filme. Temos aqui um filme francês, passado na cidade de Marselha, falado em francês, sem qualquer referência aos EUA, a Nova Iorque ou ao Bronx. Nenhuma! Nada! Eu passei a porra do longa inteiro esperando pelo menos alguém falar algo como “essa merda aqui tá igual ao Bronx” ou “Bronx no cu dos outros é refresco” ou “esse mete Bronx” ou até mesmo algum figurante gritando “Bronx” no fundo. Além disso, PUTA QUE ME O PARIU, o nome desta caralha de filme em inglês é “Rogue City”. Isso quer dizer que não faz O MENOR SENTIDO que o título seja Bronx (tanto no original em francês quanto em português), mas assim o é. Então já vou fazendo esse serviço público aqui e dizendo para vocês não ficarem como eu procurando alguma referência ao Bronx porque ela simplesmente não existe, a não ser que seja uma piada interna tão francesa que somente com uma baguete enterrada no meu rabo eu entenderia.
Superado este ponto absolutamente nevrálgico para a análise da obra, Bronx é um longa francês de um filão que não costumamos ver por aqui. Como já falei em críticas anteriores, as obras francesas que chegavam às terras tupiniquins costumavam seguir um viés autoral, daqueles filmes mais voltados à arte do que ao entretenimento, de nomes enormes e consagrados de hoje e de outrora. Com o advento da Netflix, mais a mais a gente vem tendo acesso também ao cinema popular daquele país que também é cheio de fumegantes merdas, tendo aqui em Bronx mais um exemplo do tipo de filme que já havíamos visto no bom “Bala Perdida“, também disponível na Netflix.
Em Bronx, acompanhamos a história de violência e corrupção dentro do departamento de polícia da cidade de Marselha. Contando com duas introduções diferentes, uma que perturba e outra que confunde, o longa mostra uma equipe especializada em gangues da polícia marselhesa composta por gente lindíssima e liderada pelo galã feio Vronsky (Lannick Gautry). Logo no início já descobrimos que Vronsky é um cara legal ao deixar um chefão do tráfico da cidade, que estava em prisão perpétua, ir visitar sua esposa com câncer terminal no hospital durante uma transferência entre presídios, mas aí ao final do filme a gente entende que essa cena, que é um das introduções, só confunde, uma vez que ela dura uns 10 minutos e traz muito pouco ao avançar da história.
No caso, a história é a de Vronsky e sua equipe às voltas com a galera barra pesada de Marselha, uma cidade que, aparentemente, é controlada pelo crime de uma forma muito mais ostensiva do que o Rio de Janeiro. Não quero dar spoilers aqui, mas digamos que a polícia é mais envolvida com os bandidos do que deveria, com Vronsky mergulhando agressivamente numa trama desnecessariamente complicada para um filme que queria mesmo era mostrar lugares estonteantes na costa sul da França e boas cenas de ação.
Assim, sabedor de que a proposta era ação e coisa bonita de se ver (de feio aqui apenas o Jean Reno e dois caras que, como não poderia deixar de ser, são maus igual ao pica-pau), deixei-me levar pelas quase 2 horas de exibição despreocupado, ainda que um tanto confuso com tudo o que acontece por causa da quantidade enorme de personagens, gangues e facções que se relacionam promiscuamente entre si e sem deixar, é lógico, de procurar referência ao Bronx nessa desgraça.
O resultado é mais uma boa obra policial francesa disponível na Netflix, lembrando em sua estrutura bastante o excelente e subestimadíssimo “Os Reis da Rua” (de David Ayer e com Keanu Reeves), realizada com um nível de produção e qualidade técnica que estamos acostumados a ver em Hollywood, mas, infelizmente, também sendo tão genérico quanto a maioria dos filmes policiais que saem de lá.
Ocorre, contudo, que este é um filme feito na França. E o francês, até mesmo aquele que faz filmes para a massa ignara da qual faço parte, gosta sempre de uma subversão de leve. Então as coisas não terminam como “deveriam” e isso é bastante salutar. O problema é que a justificativa para tanto é um tanto jogada, sem quase desenvolvimento algum, o que acaba por pegar o saldo positivo do inesperado e zerá-lo.
De todo modo, são quase duas horas de gente linda, lugares sensacionais e tiroteio de boa qualidade. E tenho certeza que se você não ficar procurando pelo Bronx a todo momento a experiência pode ser ainda melhor.
Leave a Comment