Garimpo Netflix #87

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Hoje o Garimpo é pra você, freguês e freguesa, que gosta de variedade. Temos aqui três filmes que seriam COMPLETAMENTE diferentes entre si não tivessem em comum o fato de serem todos excelentes dentro do que eles se propõem. Começaremos com uma comédia besteirol, passaremos por um filme de fantasia subestimadíssimo e vamos terminar finalmente com um drama denso, todos valendo, cada um a sua maneira, a sua atenção.

Vamos a eles!


– Escorregando para a Glória (Blades of Glory),  de 2007, dirigido por Josh Gordon e Will Speck

Como já falei inúmeras vezes aqui, existe um gênero de filme chamado “filme do Adam Sandler” e todo mundo sabe a que me refiro. Na mesma esteira, há também um gênero um pouco menos conhecido, e em geral melhor, que é o “filme do Will Ferrel”, gênero esse a respeito do qual discorri na crítica de “Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars. Personagens infantilizados, ególatras e extremamente burros fazem parte do panteão interpretado pelo genial Will Ferrel. Em Escorregando para a Glória, Ferrel co-protagoniza o filme com Jon Heder, recém-saído do fenômeno popular-independente que foi “Napoleon Dynamite”, em uma história de vingança, sexo, patinação artística e superação de limites.

O diferencial de Escorregando para a Glória é que, ao lado de “O Âncora” e “Dias Incríveis”, ele é quase uma tempestade perfeita para um filme besteirol, conseguindo ser exagerado, politicamente incorreto e agressivo na medida certa, além de ter na dupla Ferrel-Heder seu grande trunfo para fazer com que a gente ria mesmo vendo um esporte tão irrelevante e ridículo aos olhos do brasileiro.

É um filme bobo, besta, sendo exatamente por isso que é hilário e merecedor do seu tempo.

– Solomon Kane – O Caçador de Demônios (Solomon Kane), de 2009, dirigido por M.J. Bassett

Antes de criar o já clássico e absurdo personagem Conan, o Bárbaro, basicamente inventando o gênero fantasia de capa e espada, Robert E. Howard já havia Solomon Kane, seu primeiro personagem. Kane, que, a exemplo de Conan, também depois viria a ser adaptado aos quadrinhos, é um austero puritano inglês do século 16 ou 17, que vaga pelo mundo com seu único propósito de aniquilar o mal, geralmente da maneira mais violenta e gráfica possível.

O filme toma algumas liberdades com a mitologia de Kane, dando a ele uma motivação mais clara e uma missão específica, o que, confesso, é bem mais interessante do que o quase inexistente desenvolvimento de personagem dos contos originais. Ao mesmo tempo, contudo, o clima sombrio e a estética gótica foram mantidos nesse filme que faz muita coisa com um orçamento baixíssimo para o gênero, especialmente por causa do excelente elenco no qual se destacam os assombrosos Pete Postlethwaite e Max von Sydow, além do protagonista interpretado por James Purefoy.

Fica uma sensação de que poderia ter sido mais, mas a realização segue tendo seus muitos méritos e é uma excelente pedida pra quem está com saudade de ver um bom filme de fantasia.

– Roman J. Israel (Roman J. Israel, Esq.), de 2017, dirigido por Dan Gilroy

Após escrever e dirigir o excelente “O Abutre” com Jake Gylenhaal – parceria essa que voltaria a se repetir no excepcional e subestimado “Velvet Buzzsaw” anos depois -, Dan Gilroy conseguiu uma estrela da grandeza e talento de Denzel Washington para seu próximo projeto, este Roman J. Israel, papel inclusive que rendeu uma indicação ao Oscar para Denzel. Aqui ele vive o advogado que dá título ao filme, um sujeito que parece ser um autista altamente funcional que trabalha militando na advocacia criminal há décadas no escritório de seu mentor, que de certa forma se aproveita da genialidade de Roman, pagando pouco por um trabalho fantástico e colhendo os louros. Após este mentor ser hospitalizado, Roman se vê numa encruzilhada porque o escritório será fechado, ele tenta voltar aos seus passados de ativismo antirracismo, mas, sem opção, vai trabalhara o advogado mauriçola George Pierce, vivido com bastante sobriedade por Colin Farrell. Isso tudo desencadeia uma série de acontecimentos que vão mudar para sempre a vida de Roman, que em poucas semanas vive aquilo que não vivera nos 30 anteriores.

Temos aqui um Denzel Washington que, como sempre, é incapaz de fazer um trabalho ruim, sendo dessa vez ainda apoiado por uma trilha sonora sensacional e por um elenco de primeira, com Colin Farrell e Carmen Ejogo servindo como os contrapontos certos para tudo aquilo que Roman passa e os conflitos que vive em função de sua profissão, vocação e ideais.

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