Crítica: O Céu da Meia-Noite (The Midnight Sky)
Um dos maiores nomes da Hollywood atual, George Clooney vem povoando o imaginário feminino há uns 30 anos, o que talvez dê ao leitor a exata medida do quanto eu estou velho, já que eu estava lá quando o Dr. Doug Ross apareceu ao mundo salvando vidas em Chicago no seriado “Plantão Médico” (que deve ser lido com a voz do moço que chama as vinhetas da Globo). De lá para cá, Clooney fez a até então dificílima transição de astro de TV regional para astro de cinema internacional, tornando-se um dos nomes mais respeitados, laureados e prestigiados da indústria do Cinema, ganhando prêmios por sua atuação como ator, diretor e produtor, além de ter voz ativa em diversas causas humanitárias.
Com todo esse estofo, não foi difícil conseguir financiamento para fazer este O Céu da Meia-Noite, dirigido, estrelado e produzido por Clooney. Baseado no livro de Lily Brooks-Dalton, o longa se propõe enquanto um grande drama introspectivo com um pano de fundo de Sci-Fi sobre perda, sobre arrependimento e sobre as escolhas que fazemos em nossa vida, todos temas fortes, densos e comuns a todos nós. Ocorre que, mesmo com a força da atuação de Clooney, sua direção acaba se perdendo sob o roteiro bem irregular e até mesmo bobo de Mark L. Smith.
Aqui acompanhamos essencialmente duas histórias distintas, 30 anos no futuro. Na Terra, temos o Dr. Augustine Lofthouse, um astrônomo de aparente renome sofrendo de uma doença terminal que resolve ficar para trás quando algum evento cataclísmico causado pelo homem deixará a o planeta inabitável. Aqui já começam os problemas de roteiro. Augustine fica para trás em uma estação de pesquisa em alguma parte do círculo polar note para tentar avisar a uma missão tripulada a uma lua de Júpiter – que, acredita-se, poderá ser o futuro da humanidade – que deu muita, mas muita merda aqui e que esse pessoal tem que voltar pra tal da lua de Júpiter.
A segunda história é justamente essa que envolve a tripulação da nave que está voltando com boas novas sobre o satélite do gigante de gás. A missão está quase no fim após mais de dois anos e a nave se aproxima da Terra.
O primeiro problema do roteiro é a necessidade do Dr. Augustine ficar para trás como, ao que tudo indica, a ÚNICA esperança de que alguém avise aos tripulantes da missão que deu um ruim muito do ruim aqui e que o melhor seria que eles voltassem ao planetoide que foram explorar. Ora, uma mensagem de zap resolveria esse problema, ainda mais quando o mesmo roteiro nos mostra lá na frente que um dos tripulantes recebe o que é essencialmente uma DM da sua família. Ou seja, era perfeitamente possível que a própria NASA tivesse feito o mesmo, preparando aquele pessoal que talvez fosse a única esperança para a perpetuação da espécie humana para fazer justamente isso.
Essa questão acima foi, por si só, suficiente para me tirar da história por completo, mas segui em frente porque, apesar da irregularidade que é inerente a obras que seguem narrativas separadas, a fotografia é belíssima e George Clooney está muito bem e seguro na pele de um resignado e obstinado Augustine. Alguém que não tem mais nada pelo que viver e que talvez sequer tenha tido em algum momento, tentando lidar com a perda e fazendo um último sacrifício em função dela.
Mas aí ele encontra uma garotinha perdida dentro da estação. Subitamente, Augustine não era mais a única pessoa naquele local e será obrigado a cuidar de alguém como parece nunca ter feito em sua vida, o que não só é um clichê como também, cumulado com os flashbacks um tanto quanto anacrônicos de sua vida pregressa, tornam a obra de uma previsibilidade absurda. Não vou entrar em maiores detalhes por medo de dar spoilers, mas vocês vão entender perfeitamente do que estou falando se viram o filme até a metade pelo menos.
Aliado a isso, temos ainda uma trilha sonora que me pareceu mais cabível a alguma animação da Disney do que a um filme melancólico como este, no qual toda a humanidade está condenada e só resta um velho terminal e meia dúzia de nerd no espaço.
Felizmente, temos aqui a atuação de Clooney, uma boa cena de tensão no espaço e um final que, ainda que, como já dito, é previsível, foi montado e realizado de forma muito sensível e delicada nas mãos de Clooney. Esses elementos salvam o filme de se tornar somente mais uma bobagem pretensiosa e cara de Hollywood.
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