Crítica: Tudo Bem no Natal que Vem
Correndo o risco de fazer exatamente o oposto do que eu quero, começo essa crítica já deixando claro meu total desdém por qualquer produção de comédia galhofa nacional. Acho extremamente baixas, apelando quase sempre pro tipo de comédia mais preguiçoso e não inteligente que existe. Contudo, eis que tenho uma agradável surpresa. Eu realmente consegui me divertir e tirar algo de Tudo Bem no Natal que Vem.
A premissa aqui em seu início parecia apontar numa direção manjada; a de alguém preso num looping temporal no dia da véspera de Natal. Contudo, conforme o longa se desenvolve, vemos que nosso protagonista, Jorge (Leandro Hassum), está, por falta de vocabulário melhor, indo para o futuro. Sempre que ele dorme no dia 24/12 ele acorda no dia 24/12 do ano seguinte sem ter qualquer lembrança do que fizera durante o resto do ano. Vale ressaltar também que ele faz aniversário no mesmo dia.
Confesso que aqui já tive minha atenção retida por um premissa familiar, mas original. Não deixa de ser um looping temporal, mas mais focado nos acontecimentos do que no tempo, até porque todo Natal é igual. São sempre as mesmas pessoas, mesmas piadas, mesmos pratos e mesmo horário. Mas é isso mesmo? Todo Natal é igual? Imagina a loucura se a cada dia da sua vida você avançasse um ano? O que no início da obra trouxe poucas modificações, no seu terço final era quase como pular décadas da sua vida e olhar para as escolhas do seu eu futuro e ver o quanto longe (ou perto) você está da vida que idealizava. Isso me acertou em cheio e foi a força motriz do filme.
Com um ar meio “Click” e “O Vingador do Futuro” (aqui guardadas as devidas proporções), apresentar o Natal de uma perspectiva que foge ao motivo da comemoração em si, focando naqueles que mais causam nosso estresse natalino – os famosos parentes -, me jogou uma luz no que realmente importa, que são justamente essas pessoas que tanto nos perturbam no decorrer do ano, mas que nesse dia sentam à mesa para compartilhar uma refeição.
Nunca gostei de confraternização familiar e sempre me incomodei de ser obrigado a participar delas. Mas hoje em dia, quando olho pra 25 anos atrás, vejo como o Ryan de 12 anos tinha sorte de ter a sua vó que o criou ali ainda viva, ver seus tios com piadas de pavê e falando sobre política, seus primos que ainda eram seus amigos jogando ping-pong e seu pai ainda morando na mesma cidade. Engraçado como isso vai se perdendo lentamente com o passar do tempo e não nos damos conta de como a família é a nossa rocha central.
Embora ainda seja um filme com péssimas atuações, fotografia horrorosa, piadas não muito engraçadas na gênese, ainda que bem entregues, Tudo Bem no Natal que Vem diverte sem cantoria, sem gente esquecida em casa e visitas de fantasmas.
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