Crítica: A Escavação (The Dig)

A Escavação – produção original Netflix que traz um grande elenco, tendo em Ralph Fiennes e Carey Mulligan seus protagonistas – não foca completamente em um romance específico e tampouco se aprofunda no seu pano de fundo: o exato momento que antecede a II Guerra Mundial. Um filme intimista, que explora basicamente uma mesma locação, alia o histórico às relações pessoais de seus diversos personagens.

A rica Edith Pretty, viúva e mãe de um filho pequeno, contrata os serviços de Basil Brown, um escavador local, acreditando que suas terras escondem algo de marcante para a História. O palpite toma corpo quando Basil inicia seus trabalhos e vai desvendando um sítio arqueológico que chama a atenção de poderosos pesquisadores britânicos. A velha busca pela glória do descobrimento cria um conflito entre os grandes figurões que “cuidam” da História oficial e Basil, o “mero” escavador. Em meio a isso, o Reino Unido aumenta sua animosidade com a Alemanha, prestes a iniciarem a segunda parte do maior conflito mundial de todos os tempos. Junto, relações pessoais nascem e outras se destroem diante do ponto presente que liga passado ao futuro.

As terras do passado.

A alegoria de um sítio arqueológico que busca no passado a origem do que somos hoje, para o conhecimento das gerações futuras, é um poderoso instrumento narrativo para qualquer conto. No entanto, em A Escavação esse recurso, a meu ver, é deixado de lado. Fica sendo o foco do filme, movimentando seus personagens, mas nem toma o papel principal da história, nem é utilizado com profundidade em suas inúmeras possibilidades interpretativas. Em determinado momento, chegamos a nos questionar sobre o que o filme é. É quando respondemos a nós mesmo que, pelo menos, dois romances ou tentativas de romances surgirão no enredo – e sabemos até mesmo quais são eles. E assim o conto segue: Basil e Edith flertam, mas o casamento dele e uma fraqueza de saúde dela entram no caminho; e outros dois coadjuvantes também criam suas relações, desestruturando outras que já existiam.

Apesar do romance abordado, o filme também não foca especialmente nisso. A sensação que fica é que a obra tentou abordar diversas temáticas, tentou ser muitas coisas a um só tempo, mas não foi tão preciso em cada um dos seus objetivos. Há muitas produções que alcançam isso, mas é algo extremamente difícil. O resultado, portanto, é uma narrativa um pouco mais fria, seja pela frieza de seus personagens, seja pela mão mais distante de seus realizadores. Isso não resulta, porém, em um filme ruim. Pelo contrário. Só não é apaixonante como talvez deveria ter sido. Ou não tão marcante quanto poderia ter sido. Entre seus vários personagens, o que mais nos traz um tipo de calor é o pequeno Robert (em bela atuação de Archie Barnes), esse sim com muitas camadas e conflitos que emergem de sua presença.

O calor em meio ao frio.

Em sua conclusão, ao nos mostrar os resultados dessa história real, o filme ainda ganha uma proporção um pouco maior. Mas Simon Stone poderia ter sido mais cuidadoso na forma de ligar os tantos temas sobre os quais tratou em sua narrativa. Se a produção não foi tão marcante quanto a descoberta dos envolvidos, ao menos ela traz questões e informações bem importantes e um enredo que, apesar de não ter ido além em suas possibilidades, consegue agradar facilmente aquele que o assiste.

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