Top 10 - Melhores Filmes de 2020

É chegado aquele momento no início do ano em que todos os sites que falam sobre cinema cagam a sua regra sobre os melhores filmes de 2020. Cada um adota uma regra diferente para selecioná-los e aqui não é diferente. Contudo, nossa regra é bem simples. Para estar apto basta ele ter sido lançado oficialmente no Brasil em 2020, seja lá onde for.

Dito isso, considerando esse mundo pandêmico que vivemos, uma enxurrada de filmes on demand caiu sobre nossas cabeças vindos das nossas plataformas favoritas, como a Netflix e Prime Video, assim como tivemos a estreia do aguardado Disney Plus, oferecendo conteúdo original de alta qualidade. Isso fez com que 7 dos 10 filmes da nossa lista fossem desses serviços, mostrando, novamente, que eles vieram para mudar a produção e distribuição de filmes de forma inequívoca. Atrelado ao aumento de produções originais a níveis oscarizáveis por esses serviços, a pandemia fechou salas de cinema e atrasou a lançamento de diversas obras que fatalmente fariam parte desse top, sendo que os 3 aqui presentes foram lançados antes de março e fizeram parte da temporada de premiações do ano que passou.

Antes de adentrarmos com os nossos 10o e 9o colocados, vale aqui lembrar os 5 filmes acima que bateram na trave e acabaram não figurando nessa prestigiada lista, mas que valem aqui uma conferida sem sombra de dúvida. São eles “A Vastidão da Noite“, “O Que Ficou Para Trás“, “Crimes de Família“, “Jojo Rabbit” e “Honeyland”. Os 5 estão disponíveis em plataformas de streaming em nosso país. Faça o favor de assisti-los.

Seguindo com o show, foram 34 filmes votados, sendo que apenas nosso 1o colocado figurou no Top individual de todos os votantes aqui da redação, com quase o dobro de pontos do 2o colocado. Temos, dentre esses 10 filmes, 1 documentário, que também é o único filme nacional a aparecer na lista, 1 animação, 2 filmes britânicos, 1 espanhol e 6 americanos. A Netflix domina o top com 5 filmes, seguida pelo Prime Video com 2 e o Disney Plus com 1. Os 3 restantes foram estreias de cinema e hoje estão no catálogo do Telecine Play.

Confira, deixe aí seu pitaco e que o hate reine.

10º – O Farol (The Lighthouse), dirigido por Robert Eggers, disponível no Telecine Play.

Na décima posição da nossa pretensiosa lista de melhores filmes de 2020, temos O Farol, dirigido por Robert Eggers e estrelado pelo vampirinho do Crepúsculo (Robert Pattinson) ao lado do Duende Verde (Willem Daffoe). De todos os filmes que tiveram alguma ligação com o último Oscar, esse certamente foi o que mais me marcou pela potência de suas cenas, levando-nos da confusão ao nojo, do alívio cômico à melancolia. Os sonhos mórbidos e a tensão absoluta, os incontáveis momentos de flerte com a insanidade e as atuações esplendorosas são um espetáculo a parte. O preto e branco granulado da câmera antiga nos permite, ainda, navegar por cada ato naquele farol sob diferentes óticas imersivas propostas pela direção. É um filme pra quem gosta de poesia!
Por Caio Henriques


9º – AmarElo – É Tudo pra Ontem, dirigido por Fred Ouro Preto, disponível na Netflix.

AmarElo – É Tudo Pra Ontem já traz em seu título o estado de urgência em que acontece e grita. Exibindo os bastidores do show icônico do Emicida no Teatro Municipal de São Paulo, o documentário de Fred Ouro Preto vai muito além de apenas mostrar a trajetória e os pensamentos do rapper de inteligência aguçada e consciência social que não se esvaiu com a fama. AmarElo é um libelo, um documento, um berro de uma negritude que não abaixa a cabeça e aceita seu apagamento literal e metafórico. AmarElo é uma celebração negra aos negros que construíram e constroem todos os dias a cultura desse Brasil que, apesar de dever muito a eles, ainda insiste em matar os de pele preta. AmarElo é uma beleza audiovisual que avisa que, das gargantas periféricas do país, sai um aviso que é bom que os cães raivosos ouçam: “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”.
Por Marco Medeiro

8º – Joias Brutas (Uncut Gems), dirigido por Benny Safdie e Josh Safdie, disponível na Netflix.

Os irmãos Safdie estão a caminho de solidificar um legado de um cinema autoral automaticamente identificável. Meu primeiro contato com eles foi o excelente “Bom Comportamento” de 2017, no qual o próprio Benny Safdie atua como o irmão com questões cognitivas de Robert Pattinson que está preso. O que esse filme tem de bom, foi posto a quinta potência em Joias Brutas. Temos um ritmo alucinante ao ponto de ser difícil desviar os olhos da tela e não se perder com diálogos, uma montagem e um cinematografia que te engolem e sobrecarregam. Há nitidamente uma urgência em cada cena e sempre há algo em jogo, mesmo que você não saiba muito bem o que seja. Tudo isso conduzido pela atuação nada menos que brilhante de Adam Sandler que essencialmente faz ele mesmo sem as caras e bocas de suas comédias pastelão. Não é uma obra para todos, mas uma coisa é certa: não tem como você ficar indiferente a um dos melhores filmes do ano.
Por Ryan Fields


7º – O Som do Silêncio (Sound of Metal), dirigido por Darius Marder, disponível no Prime Video.

Com O Som do Silêncio, Darius Marder teve mais que uma estreia como diretor e roteirista de longa metragem. Marder criou uma sinfonia audiovisual. A saga de um baterista que vai ensurdecendo pode parecer, à primeira vista, um competente estudo de personagem. Só que essa obra que estreou diretamente no Amazon Prime é, como uma boa sinfonia, uma poderosa estrutura cheia de camadas. Um roteiro impecável, uma direção inspiradíssima, um protagonista que, incorporado em uma performance absurdamente plena de Riz Ahmed, nos faz sentir cada emoção que o permeia. É filme de arrepio, de sentir na pele. E, como música boa, se impõe no equilíbrio delicado e cortante que instaura entre seus sons e, principalmente, seus silêncios.
Por Marco Medeiros

6º – O Poço (El Hoyo), dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, disponível na Netflix.

Como deixar o nosso Top 10 sem um suspense espanhol cheio de elementos do terror seria uma baita heresia, o polêmico O Poço, do diretor Galder Gaztelu-Urrutia, conquistou seu lugar na nossa lista ao trazer para a Netflix uma consistente caricatura das estruturas sociais contemporâneas, escancarando uma faceta que nem todo espelho é capaz de refletir: o lado mais selvagem do ser humano. Conforme a falácia da solidariedade espontânea vai sendo desmitificada, cada variação da plataforma nos obriga a refletir sobre a autodestruição gerada por um sistema dominado pela produção e consumo exacerbado. Subir não é a resposta!
Por Caio Henriques


5º – Mank, dirigido por David Fincher, disponível na Netflix.

Mesmo se não estuda cinema ou é simplesmente fã, você provavelmente sabe da importância de “Cidadão Kane”. A controversa obra de estreia de Orson Welles sobre a vida de um magnata da publicidade foi lançada há exatos 80 anos e, em Mank, acompanhamos a jornada turbulenta de sua produção, sob o olhar de seu roteiristas, o lendário Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman). David Fincher é o mesmo diretor que nos entregou clássicos modernos como “Clube da Luta” e veio presentear 2020 com esta verdadeira obra-prima que se desenrola tanto como um filme das décadas de 30 e 40 quanto um contemporâneo com marcas registradas dos trabalhos de Fincher. A junção desses elementos e o roteiro do falecido Jack Fincher (pai do diretor) não conquistaram parte do público, mas conquistou a equipe do Metafictions e por isso está nessa lista. Além desses elementos, temos mais uma atuação incrível de Gary Oldman, a melhor performance da carreira de Amanda Seyfried e uma trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross. Conflitos e tensão rodeiam a história destes bastidores e fazem de Mank um filme singular, digno de ser considerado um dos melhores de 2020.
Por Valentina Schmidt

4º – O Diabo de Cada Dia (The Devil All the Time), dirigido por Antonio Campos, disponível na Netflix.

Cá estamos no meio oeste americano, cenário perfeito para conhecermos o Diabo na sua forma mais vil. Essa é uma parte dos EUA pobre, cristã, nacionalista e cheia de gente de baixa instrução e perspectiva na vida. Dito isso, estamos em torno da década de 1950, uma época próspera no capitalismo americano, onde a indústria crescia vertiginosamente assim como a qualidade de vida da população. É aí que conhecemos algumas famílias que se conectam com o passar do tempo de uma forma a alternar os traços mais virtuosos e desprezíveis da humanidade. Esses personagens permutam entre a honra e a desonestidade, o carinho e a violência, o amor e o ódio com atos que nem sempre estão alinhados aos sentimentos expressados. O Diabo de Cada Dia é encardido e te arrasta para as profundezas quentes e fétidas da alma humana.
Por Ryan Fields


3º – Você Não Estava Aqui (Sorry We Missed You), dirigido por Ken Loach, disponível no Telecine Play.

Ken Loach não é o mais brilhante, tampouco o mais sofisticado ou requintado cineasta do mundo. Mas arrisco dizer que é o mais necessário. Seus filmes não vêm para refletir sobre alguma questão existencial, metafísica e abstrata. Eles existem enquanto ferramentas cruas, diretas e absolutamente acessíveis a qualquer um. São libelos sobre as relações sociais, sobre o homem comum, sobre a luta que é meramente existir na sociedade moderna. Em Você Não Estava Aqui, Loach aborda as novas tendências das relações de trabalho, um tema bem atual se olhado pelo prisma de um Brasil recém-saído de uma reforma trabalhista que aumenta a informalidade, sempre com a inacreditável e criminosa desculpa de que o trabalhador é quem sairá ganhando ao perder seus direitos e garantias. Loach mostra, de forma cabal e irrefutável, o quanto isso é uma falácia com a história de um motorista inglês interpretado com força por Kris Hitchen. Nada menos do que obrigatório. 
Por Gustavo David

2º – Soul, dirigido por Pete Docter e Kemp Powers, disponível na Disney Plus.

Soul é daquelas animações existenciais que chacoalham qualquer espectador. Filme travestido de infantil, suas questões falam muito diretamente ao que cada indivíduo pensa no seu dia a dia, muitas vezes sem encontrar respostas. O sentido da vida é o centro da jornada dos dois personagens principais dessa produção, assim como a nossa, e a obra consegue criar uma narrativa ao mesmo tempo tocante e sincera, fazendo-nos aproveitá-la sensível e divertidamente. Um dos raros títulos cujo tema central não é a educação, mas que exalta a figura do professor, em sua conclusão percebemos que inspirar os outros talvez seja um dos motivos de nossa busca. E Soul é definitivamente inspirador.
Por Rene Michel Vettori


1º – 1917, dirigido por Sam Mendes, disponível no Telecine Play.

Disputando com o excepcional “Parasita” o prêmio de melhor filme no Oscar do ano passado, não teria sido exagero nenhum se 1917 houvesse ganhado. Trata-se daquela que é talvez a mais tecnicamente (som, cinematografia e tudo relacionado a isso) perfeita obra já filmada. Só isso. Sam Mendes, diretor de tantas outras obras extraordinárias (“Beleza Americana”, “Estrada para Perdição”, dentre outras), já mostrara todo seu talento antes, mas, assessorado pelo ser mitológico que é Roger Deakins, o diretor de fotografia cuja vitória no Oscar foi das coisas mais merecidas que já vi em toda a minha vida, ele faz aqui seu tour de force, uma verdadeira experiência cinematográfica, daquelas que mostram que o streaming não tem a menor possibilidade de substituir a boa e velha sessão de Cinema. Em tempos de pandemia, poucas coisas são mais lamentáveis do que saber que filmes como 1917 serão majoritariamente vistos em casa, sem a grandiosidade que tudo aqui exige.
Por Gustavo David

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