Crítica: Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre (To All the Boys: Always and Forever)

Depois de ter resenhado o filme “Para Todos os Garotos que Já Amei“, segui na trilogia e, quando do lançamento, me joguei em “Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você“, sua continuação. Essa semana, então, a Netflix trouxe a terceira parte – se é definitiva, já não sei – dos sabores e dissabores dos carismáticos Lara Jean e Peter Kavinsky. Não me colocaria de fora dessa, apesar de ter identificado uma baixa na segunda parte, com a troca de diretor em relação ao bom primeiro filme da série. Fiz questão de não rever nenhum e sequer reler o que havia escrito sobre cada qual. Queria ter a sensação de – apesar do conhecimento prévio da história e dos personagens, muito embora eu esqueça algumas coisas e confunda outras tantas em obras muito semelhantes – observar se o título funciona como si só ou se apenas enquanto continuação.

No primeiro, vimos a improvável relação entre um popular e uma outcast se consolidar. No segundo, contemplamos o amor de Lara Jean titubear diante do surgimento intempestivo de um de seus antigos amores platônicos. Mas vendo que Kavinsky é mesmo seu par, Lara Jean se manteve no relacionamento. A terceira parte – como é comum na configuração sociológica norte-americana – traz o velho e já visto conflito (aliás, todos os anteriores também já são velhos conhecidos nossos) da possível separação com a ida para a Universidade. Nem todos são aceitos para o mesmo local e quase nenhum – pelo que vemos nos filmes – fica em seu estado de residência. Talvez seja um motivo de as famílias americanas serem tão frias e sem sal: chegados os 18 anos, as pessoas simplesmente se separam e muitas vezes para bem longe. Peter já conseguira sua aprovação em Stanford e faltava apenas a óbvia notícia por parte de Lara, aluna brilhante e irretocável que sempre fora. Outras Universidades, mais distantes, já haviam enviado suas congratulações para a candidata: por qual motivo Stanford faria diferente? Para que possa existir o filme, a gente já sabe de antemão que ela não seria aceita. Eis que surge o conflito principal: morando em locais diferentes e distantes, seria possível manter a relação? Ou cada um deveria (ela, principalmente) colocar seus sonhos pessoais em standby em favor da proximidade e do fortalecimento do amor de um para com o outro? É nesse universo que caminha a terceira parte de “Para Todos os Garotos”.

Juntos… por quanto tempo?

Aqui temos o desenvolvimento já conhecido de um casal que vai e vem; que, no auge de seu relacionamento, percebe o primeiro conflito; que tenta amadurecer, apesar de tomarem decisões infantis e pouco sentimentais, colocando a razão acima de tudo. Mas, como dissera Goya em uma pintura sua, “o sonho da razão produz monstros”. Não se pode reduzir uma relação emocional tão somente ao que a razão mostra (não que o contrário seja plausível, também). Deve-se ter um mínimo de equilíbrio entre essas partes que – sugere-se – parecem tão opostas entre si. E é isso que Lara Jean e Peter Kavinsky tentarão fazer ao longo dos 90 minutos de narrativa. Apesar do conflito ser conhecido, apesar dos possíveis caminhos de seus personagens também já serem familiares a nós, Michael Fimognari (o diretor responsável pela queda de satisfação da segunda parte) consegue se redimir nessa conclusão, mergulhando-nos no carisma desses adolescentes que voltam a brilhar os olhos. Toda história de maturidade, que não deixa de lado a inocência, sempre me é rica e Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre consegue alcançar seu objetivo de nos envolver nessa paixão que balança, mas permanece.

Os atores Lana Condor e Noah Centineo já estão confortáveis em seus papéis e seguem no carisma de sempre. As situações, por vezes, nos colocam uma ideia do que pode ocorrer, mas no fundo temos aquela sensação plena de que tudo será resolvido (fosse um filme coreano, já pensaríamos diferente: aliás, o início da obra se dar em uma viagem de Lara Jean à Coréia do Sul poderia nos fazer pensar em conclusões menos doces, caso seguissem o teor do país); mas os americanismos são fortes por aqui e essa narrativa é sobretudo 100% americana. Desse modo, os temas de família e esperança estarão sempre presentes e sairmos de três longas a ver navios seria dramático demais para um investimento tão grande. Sem incorrer em spoilers (prática proibida nesse site), eles e tão somente eles deverão desvendar sozinhos, diante de suas imaturidades, o que fazer para conseguir tornar real um relacionamento à distância. Essa temática, como dito anteriormente, não é nova, mas surge com essa interessante roupagem adolescente em busca por crescimento pessoal.

Nenhuma distância entre eles.

Se no anterior critiquei o diretor Michael Fimognari, por ter piorado a continuação, agora o parabenizo por ter trazido de volta o fulgor daqueles personagens em mais uma história interessante, bem comédia romântica, mas que consegue nos conduzir para algo um pouco além do simplório. Imagino que para o público mais jovem e fã desse gênero, esta terceira parte venha – talvez – como a melhor. Quanto a mim, voltei a sorrir e me envolver com uma história ingênua, emotiva e acolhedora como seus protagonistas.

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