Crítica: Ponto Vermelho (Red Dot)
Com longas extraordinários como o sensível e brutal “Deixa Ela Entrar” e os thrillers da trilogia “Millennium”, a Suécia repousa no meu consciente como a terra de produções cinematográficas viscerais e necessárias, além de ser o lar de atores com selo de qualidade inquestionável como Peter Stormare, Noomi Rapace, Mikael Persbrandt, Max von Sydow e família Skarsgård, dentre outros. Por conta disso, apenas de ler a sinopse de Ponto Vermelho e ver o país de produção, meu cérebro me preparou para um deleite visual e de narrativa que me condenou a quase 1h30 de uma surra de decepções. E cá estou para alertar e configurar seu mindset para melhor te preparar para essa experiência.
Temos aqui uma premissa básica: em qualquer lugar do mundo existem pessoas racistas, machistas e homofóbicas. Nadja (Nanna Blondell) e David (Anastasios Soulis) são um casal inter-racial que foi passar um final de semana nas montanhas ao norte de sua nação para dormir sob às luzes da aurora boreal e assim tentar consertar sua relação, que vinha capengando. Eis que o casal encontra nessa área mais rural algumas pessoas racistas – Nadja é preta – e começa aqui um festival de cagadas inacreditável a um nível que em diversos momentos chega a ser cômico. Claro que quanto maior o nível de instrução e qualidade de vida (e assim eu quero acreditar), menores são as chances de você topar com gente dessa estirpe. E como estamos falando de um país com um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano, utilizar da questão étnica foi uma jogada que poderia ter funcionado muito bem caso não tivesse sido usada de forma escrachada com o intuito de manipular grosseiramente o telespectador.
O filme é recheado de decisões estúpidas que chegam a incomodar, numa sucessão tão acelerada e em tão pouco tempo que fica repetitivo bem rápido. Atrelado a isso, nós temos personagens muito rasos, unidimensionais e burros, tornando qualquer exercício de empatia muito difícil. Sabe aqueles filmes de terror onde a pessoa dá de cara com o assassino em série mascarado, o derruba e em vez de pegar sua arma e matá-lo, sai correndo para o andar de cima gritando? É exatamente o que temos aqui, mas nas montanhas cobertas de neve da Suécia. Várias informações, também, não se pagam e morrem na praia sem qualquer aprofundamento, tirando uma cena ou outra onde são mencionadas apenas por conveniência de narrativa, como a gravidez de Nadja.
Além disso, as cenas supostamente tensas – inclusive aquela que dá nome ao longa – não causam medo ou aflição, não pela situação em si, que realmente parece assustadora, mas pela construção e ambientação que carecem de uma boa execução, quiçá personalidade. Incrivelmente o pior de tudo está no plot twist final, que é desonesto e tirado do cu, que te nega qualquer possibilidade de ressignificar a obra que chega ao final cambaleante.
Embora tenha o mérito que jogar com o racismo que mora dentro de você, Ponto Vermelho é mal executado e desonesto, mas por 1h30 me fez ficar indignado e rir. Talvez eu devesse ter entrado aqui com o mindset Trapalhões Sueco +18.
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