Crítica: A Viúva das Sombras (Vdova)
Se tem algo que me deixa mais vulnerável aos filmes de terror é o fato de não ver ali – quase nunca – algum tipo de fantasia. Em sua grande maioria, os eventos sobrenaturais que abordam me soam todos muito plausíveis e prováveis de acontecer. Há uns poucos casos que um exagero fantasioso me tira essa concepção. Quando, porém, a narrativa é baseada em fatos reais, aí o negócio atinge esferas muito mais verdadeiras no meu imaginário, de forma que, em especial os casos que envolvem exorcismo, me fazem considerar algumas vezes antes de decidir assisti-los. Vindo da Rússia, o novo terror das salas de cinema é A Viúva das Sombras, baseado em acontecimentos verídicos de São Petersburgo.
Por três décadas, pessoas que se aventuram na densa floresta do norte de São Petersburgo, na Rússia, desaparecem e os poucos corpos achados são encontrados nus. Citadinos defendem a ideia de isso ser obra de uma entidade a quem chamam “A Viúva Manca”. Essa não é a sinopse do filme; esse é o evento real no qual a obra é baseada. Acompanhamos na narrativa, portanto, um grupo de voluntários em busca de um adolescente desaparecido. Entre eles, uma mulher tenta documentar os esforços para recuperar o rapaz. Uma vez dentro da floresta, o grupo terá que lutar para sobreviver e conseguir sair dali.

É evidente que, apesar de inspirado em fatos reais e em uma lenda urbana local bastante interessante, essa trama não é lá muito original. Isso, porém, como digo há tempos e sempre irei repetir, de nada impacta negativamente em qualquer produção. Não estou à procura de sinopses originais, mas de histórias bem contadas. E um dos elementos principais – se não o principal – de uma boa narrativa é a construção de seus personagens. Em A Viúva das Sombras temos alguns deles, que formam o grupo de voluntários à procura do adolescente perdido. Apesar disso, a construção de cada um ali presente é extremamente rasa. Geralmente, em outros títulos semelhantes, ao longo da jornada, da travessia, da busca pela sobrevivência, os personagens revivem seus medos, reencontram seus traumas, lidam com o peso de um passado ou presente que fazem com que mudem a perspectiva das coisas diante daquilo que estão a enfrentar. Mas não aqui. Na obra russa, nada sabemos sobre os personagens e, passadas 1h20 minutos, nada continuamos a saber. O principal elemento de um grande filme, portanto, aqui é plenamente ignorado.
Sobra, então, o terror pelo terror. O que não deixa de ser uma proposta, já que nem todos os filmes precisam efetivamente guardar algo de profundo em suas histórias. Mas também aí a produção é falha. Um susto ou outro pode até acontecer, em determinadas cenas, mas eu que sou um cagão de carteirinha não tive qualquer problema nem mesmo após a conclusão, quando as lembranças retornam e me atormentam a imaginação. Passou batido. Aliado a isso, nem mesmo a própria lenda urbana que, por si só, é extremamente interessante tem alguma atenção mais especial. Pelo contrário, tudo o que sabemos sobre ela vem do letreiro inicial do filme e de um único diálogo da personagem que conta a história original da suposta entidade. Nem mesmo a semelhança com “Bruxa de Blair”, pelo fato de se utilizar da câmera documental de seus personagens em alguns momentos, consegue produzir efeito semelhante ao título americano independente.

Entre uma sinopse interessante e uma boa realização há um abismo. E esse abismo fica muito evidente, infelizmente, em A Viúva das Sombras. Tantos elementos que mereciam atenção de seus realizadores, mas que foram relegados nem mesmo a segundo plano. Seja a lenda urbana, que nos deixa com vontade de pesquisar mais a respeito posteriormente, sejam os personagens que mais se assemelham a coadjuvantes/figurantes, as diversas propostas que poderiam surgir dessa história não vingam e não causam muita coisa em seu espectador. Como seus protagonistas, perdidos na densa floresta, andando em círculos em busca da saída, assim se mantém o próprio filme, não sabendo para onde seguir ou o que fazer com suas sequências.
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