Garimpo Netflix #93: Elas (vol. 3)

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


No ano de 2019, fiz um Garimpo Netflix chamado Elas. Naquela ocasião, explicava não se tratar de um garimpo feminista, mas que buscava tão somente boas histórias protagonizadas exclusivamente por mulheres. Passado quase um ano, em 2020 publicamos o Garimpo Netflix Elas (vol. 2), tendo como fio condutor a mesma orientação. Esse mês, um ano após a segunda publicação e quase dois da primeira, juntei outros três títulos que, da mesma forma, trazem em suas personagens principais mulheres.

Se na primeira edição trouxe três dramas, já na segunda, contando com mais dois desse gênero, surgiu uma poderosa e impecável ficção científica. Este terceiro volume, porém, é o mais mesclado: uma obra de ação, uma de suspense e outra de drama (nunca falta, né?). Independentemente do assunto ou de seu estilo, todos contam a história a partir do olhar de suas personagens principais.

Não deixe de visitar os outros volumes e comente a “tríplice” que você mais gostou. Para mim, o volume 2 me parece ser imbatível.


– Ava, de 2020, dirigido por Tate Taylor

Eu sou um fã absoluto da Jessica Chastain, uma musa inspiradora para mim. Seu talento absurdo e sua beleza inconfundível me fazem assistir a qualquer filme seu. Por pior que seja o título, para mim é válido tão somente o fato de poder ficar olhando para ela algumas poucas horas. No entanto, não é por esse motivo que vos trago a obra Ava. O que chama atenção nesta, a priori, é o fato de ser um filme de ação protagonizado por uma mulher. Um bom filme de ação, devo dizer. Quebrando o estereótipo de produções desse gênero que costumam trazer homens viris em seu papel principal, Ava vai muito além disso.

Ava (pela incomparável Jessica Chastain) é uma assassina que trabalha para uma organização de black ops, mas que se vê forçada a lutar pela própria vida ao se tornar alvo de seus próprios “empregadores”. Para além do que essa sinopse possa sugerir em termos de ação, os conflitos pessoais de Ava, que surgem firmes ao longo da narrativa, constroem uma história com tons mais profundos e com muito mais a oferecer do que só tiro, porrada e bomba. A fragilidade que ela pode apresentar em nada é marcada por mais ou menos músculos, mas apenas pelos escombros emocionais e psicológicos de quem abandonou sua família e seu companheiro para viver uma vida completamente fora dos padrões.


– Por um Corredor Escuro (Down a Dark Hall), de 2018, dirigido por Rodrigo Cortés

O representante do suspense da vez é Por Um Corredor Escuro, que nos traz a história de um grupo de garotas problemáticas enviadas por seus pais a um internato. Elas são a baixa autoestima encarnada, pois nem o seu entorno vê algum tipo de valor nelas, tampouco elas próprias conseguem encontrar algo de bom em si. Uma vez lá dentro, o trabalho dos professores-tutores é o de despertar o talento escondido de cada qual. Mas, com o passar do tempo, elas percebem que segundas intenções misteriosas percorrem as alas daquela mansão-escola.

Entre elas, acompanhamos a protagonista Kit (AnnaSophia Robb), quem lidera, entre as meninas, a busca pela verdade naqueles corredores sombrios e gelados. Pouco a pouco, muitos segredos vão sendo revelados e as meninas terão que lutar pela sobrevivência emocional e física.

Um suspense interessante, que pincela temas delicados das relações entre iguais.

Um Crime em Comum (Un crimen común), de 2020, dirigido por Francisco Márquez

Se não me falha a memória, dos 6 títulos indicados nos garimpos “Ela” anteriores, apenas um não era americano, mas francês. Fazendo companhia a este, por não ser dos Estado Unidos, temos o argentino Um Crime em Comum. Nessa história completamente intimista, estamos lado a lado com Cecilia (Elisa Carricajo), uma professora de sociologia a viver na sua bolha acadêmica e social, enquanto cria seu filho pequeno e mantém uma relação excelente com sua diarista, Nebe (Mecha Martinez), de quem não faz diferença. Quando, porém, Cecilia descobre que a polícia executara o filho de Nebe na mesma noite em que ele batera, durante a madruga, em sua porta e ela não atendera por medo instintivo, a protagonista passa a viver aprisionada pela culpa de sua falta de ação.

Percorrendo o real, mas muitas vezes invisível, mundo da classe baixa e sem recursos, Cecilia atravessa sua bolha na tentativa de se redimir de seu ato milenar de lavar as mãos. Se em suas aulas e em seus textos parece pregar uma militância, em sua vida, até aqui, percebe que nada fizera de valoroso nesse sentido (na verdade, é a história de quase todos desse tipo). E somente o peso de sua consciência poderá mostrar o caminho que deve seguir.

Silencioso, intimista e forte.

 

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