Crítica: Bad Trip

Já faz algum tempo que Eric André tem uma espécie de talk show no Adult Swin do Cartoon Network americano. Até onde sei, esse programa não passa no Brasil, mas clipes dele várias vezes pipocam aqui e ali, invariavelmente por causa da natureza completamente caótica e despirocada de absolutamente tudo no qual o humorista Eric André bota a mão. Prova disso é o seu especial de stand-up da Netflix, “Legalize Everything”, no qual ele faz e fala uma quantidade de merda que eu não consigo nem começar a descrever aqui.

Ao juntar esse cara completamente maluco com os produtores responsáveis pelo sucesso de “Jackass” e dos seus muito subprodutos na TV e no Cinema, o resultado foi “Bad Trip”, uma espécie de versão loser e menos inspirada de “Vovô Sem Vergonha”, filme estrelado pelo Jackass original Johnny Knoxville que acompanhava uma road trip de um avô sem vergonha (como diz ali no título) com seu neto pelos EUA.

Aqui temos os dois merdões Chris Carey (Eric André) e Bud Malone (Lil Rel Howery) indo da Flória até Nova Iorque atrás da mulher que Chris forçadamente ama, Maria (Michaela Conlin). Eles então pegam o carro da irmã bandidona de Bud, Trina (a comediante Tiffany Haddish), e partem rumo a Nova Iorque em busca do amor de Chris, mas Trina consegue escapar da prisão e vai atrás dos dois. E é só isso.

Os atores que mencionei no parágrafo acima – a maior parte deles comediantes de stand-up de alguma fama nos EUA – são praticamente os únicos atores de verdade de toda a obra, que basicamente segue esse pessoal por todo os EUA enquanto eles fazem pegadinhas com as pessoas no meio da rua. O que se tem aqui, portanto, é um filme que poderia ter sido escrito pelo Ivo Holanda e narrado pelo Sílvio Santos, no qual ET e Rodolfo viajariam de São Paulo a São Luís do Maranhão pregando peças e fazendo trocadilhos de duplo sentido com caminhoneiros e prostitutas de beira de estrada. Mas não é assim. O que temos é um arremedo de história que permita que várias pegadinhas que não são lá assim tão engraçadas sejam feitas. E aqui jaz o grande problema do filme.

Não há como criticar a história, atuações, cinematografia ou qualquer outro quesito técnico de um filme que não se presta a qualquer coisa que não arrancar uma gargalhada ou outra do espectador com as peças pregadas. O longa toda é só um veículo para pegadinhas e, a partir do momento em que o espectador entende e aceita isso, a expectativa se torna diferente. De todo modo, mesmo assim o filme não cumpre o esperado simplesmente porque seu fio condutor é o choque pelo choque e mais nada. As coisas que aconteçam chocam os transeuntes que ali estão, mas são meramente apelativas para nós que estamos assistindo sabedores que aquilo não é sério. Há uma cena, por exemplo, que Eric André é currado por um gorila e depois paga à força um gargabol para o mesmo gorila. Óbvio que isso chocou quem estava assistindo (o que me pareceu incrível porque o gorila era claramente um cara numa roupa de macaco), mas pra quem já sabia que aquilo não verdade de antemão, provoca no máximo um risinho frouxo.

E essa é a tônica de todo o filme. Ele segue com pegadinha atrás de pegadinha, algumas que te fazem dar um sorrisinho de canto de boca, outras que te fazem pegar o celular pra ver se chegou um zap de tanto constrangimento e vergonha alheia. E isso quem te diz sou eu, um cara que acha “Jackass” uma coisa engraçadíssima e que certa vez ficou dias sorrindo ao lembrar de um peidinho em particular que soltara. Inclusive acabei de sorrir de novo agora.

Enfim, Bad Trip é meramente um apanhado de pegadinhas que fracassam enquanto filme e fracassam enquanto instrumentos para nos fazer rir. Algumas pegadinhas são ok, outras são ruins, e muitas são constrangedoras, em especial se você vir esse filme com a sua mãe, como foi o caso comigo.

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