Crítica: Cabras da Peste

Eu fiquei sabendo quem era Edmilson Filho assim como todos vocês: por meio do excelente e subestimado “Cine Holliúdy” que, uma continuação e anos depois, se tornaria uma série na toda poderosa Rede Globo. Naquele filme, Edmilson se juntava a seu parceiro Halder Gomes para fazer um filme que só poderia ter sido realizado no Brasil, aliando ao mesmo tempo paródia e tributo aos grandes filmes de gênero de Hollywood com a chamada “fuleragem” do nordestino.

Cabras da Peste pega esse mesmo espírito, mas dessa vez se concentra de forma descarada e desavergonhada em ser uma paródia dos filmes de buddy cop americanos. A coisa é tão absurdamente explícita que a primeira música que ouvimos é a já clássica The Heat Is On da franquia “Um Tira da Pesada”, só que num ritmo de forró espetacular em que Gaby Amarantos canta: “Calor do cão / Não vou dormir / Vou pro rolê  / Quero curtir / Solta o batidão!”, melhorando inegavelmente a letra insossa do original.

Aqui, Edmilson Filho – que eu acabei de descobrir ser faixa preta de 5º grau de Tae Kwon Do, o que explica sua desenvoltura nas cenas de luta do filme – vive o policial Bruceuílis em uma cidade do interior do Ceará onde nada nunca acontece. Isso muito o incomoda, já que seu sonho era ser o John McLane no Nakatomi Plaza, tal qual seu homônimo. Toda essa vontade de mostrar serviço levam Bruceuílis a fazer besteira e ficar encarregado de cuidar do cidadão mais célebre da cidade: a cabra Celestina. Quando Celestina é desavisadamente sequestrada pelo bandido vivido pelo Julinho da Van do Choque de Cultura, Bruceuílis faz como Axel Foley e vai para outra cidade desvendar o caso, no caso São Paulo, cidade onde o policial Trindade (Matheus Nachtergale) é a vergonha da força policial.

Com essa sinopse, a gente que já viu qualquer filme com o Eddie Murphy já sabe o que vai acontecer. Dois policiais de personalidades antagônica vão se juntar e, contra tudo e todos, triunfar sobre algum bandidão malvadão. Só que aqui essas coisas acontecem com piadas e mais piadas contadas pelo povo mais engraçado desse país, o cearense, entremeadas com um arremedo de trama, algumas cenas de ação com efeitos especiais lamentáveis e, principalmente, a participação do grande e lendário Falcão, o que por si só já eleva o filme a um outro patamar (sério mesmo, meia claquete da minha nota se deve exclusivamente a eu poder ver e ouvir o Falcão falar).

Curiosamente, um dos pontos fracos do filme jaz em um dos maiores atores do cinema nacional. Matheus Nachtergale parece fora de lugar a maior parte do tempo, ainda que isso também pareça deliberado, uma vez que seu personagem é o típico policial pau no cu e certinho americano, com falas que parecem ter sido escritas em inglês e traduzidas. Há momentos em que chega a dar uma certa vergonha alheia, o que atribuo não a uma falta de talento para a comédia de Nachtergale (“Auto da Compadecida” tá aí pra mostrar que isso o moço tem de sobra), mas, sim, a uma condução equivocada do arquétipo do policial almofadinha de filme americano. Já Edmilson não padece desse problema. Usando Matheus como escada, é ele quem brilha e carrega o filme todo nas costas, devidamente ajudado pelo elenco de apoio, com destaque para o núcleo cearense e para os sempre engraçados Leandro Ramos e Evelyn Castro. Isso sem contar com os momentos sublimes em que o Falcão aparece e abre a boca.

No mais, a proposta de fazer uma paródia nordestina das comédias policiais americanas na qual traficantes usam rapadura para contrabandear droga funciona e funciona bem. O espectador passa a exibição toda dando algum risinho frouxo por alguma gag física ou alguma piada com o choque cultural entre o interior do nordeste e a cidade grande em São Paulo. E isso me parece ter sido exatamente o objetivo. E, contando ainda com a presença do Falcão (eu já falei que adoro o Falcão), o que o longa prometia foi mais do que cumprido.

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