Crítica: A Semana da Minha Vida (A Week Away)
Lá vou eu para um musical adolescente com canções grudentas, coreografias de show da Xuxa “Cancelada” Meneghel, dramas superficiais e romances de pegar na mão. Seria esse meu destino por impiedosos 94 minutos? Sim! A Semana da Minha Vida é tudo isso, mas feito de forma azeitada, abraçando o lugar que quer ocupar e ciente do que precisa fazer para isso.
A começar pela história do nosso protagonista, Will (Kevin Quinn), um jovem órfão criado pelo Estado, que perdeu os pais num acidente, rodando diversos lares adotivos por ser uma pessoa revoltada com o destino que a vida lhe proporcionou. Após realizar uma cagada mestra – que aqui no Brasil acabaria com ele baleado e desovado em alguma vala – é posta uma escolha nem um pouco difícil para qualquer pessoa: ir para o reformatório juvenil ou ir para um acampamento cristão. Jogando contra sua sanidade, ele escolhe o acampamento, privando-nos de apreciar um musical feito na prisão com jovens negros e sem esperança na vida. Ficamos, então, com atores de quase 30 anos interpretando adolescentes brancos privilegiados de 17 anos, num acampamento típico, onde 3 grupos durante 1 semana competem em diversas atividades, como paintball, e a noite discutem preceitos bíblicos… bem cristão.
Como tem sido a tônica desses dramas adolescentes, padrões estéticos são desafiados de forma pontual, com alguns personagens coadjuvantes que pouco agregam a trama principal. É uma menina acima do peso ali (aliás, já usar esse termo já um forte indício que existe um padrão cinematográfico) posta como atraente, um nerd acolá sendo divertido, um líder de acampamento sóbrio, competente e divertido, e por aí vamos. Porém, ainda é esteticamente muito convencional no núcleo principal, com o vilão que sempre é o babaca competitivo, loiro e de olhos claros, o protagonista branco moreno e atlético, que por sua vez está interessado na menina mais cobiçada do campo, toda dentro dos padrões estéticos da indústria. Contestar é o novo padrão, mas essa contestação é dosada, sem rupturas drásticas e dentro de uma margem de conforto. Fica nítida uma tentativa de agradar gregos e troianos.
A Semana da Minha Vida é um musical que tem poucas músicas. Inclusive, em alguns momentos, só lembrava que era um musical quando alguém começava a cantar. Vale ressaltar que os momentos de cantoria aqui misturam suspensão do tempo, com acontecimentos e coreografias que não afetavam a narrativa, e “tempo real”, com performances que mexiam diretamente com o rumo da história. Quanto às músicas, elas variaram de grudentas, passando por esquecíveis, chegando em algumas que são ruins a um nível dantesco. Ou a letra era péssima, ou a cantoria em si – vale ressaltar que ninguém tinha uma voz espetacular – ou a coreografia era constrangedora ou era tudo isso junto. “Cringe” é o conceito aqui.
Essa é a tônica do início ao fim. É uma obra formulaica, clichê, com personagens unidimensionais e que vc pode passar batido sem culpa. Contudo, ela deixa claro desde seu início ao que veio e entrega exatamente o que promete. Caso você esteja a procura de ocupar seu tempo sem se preocupar ou ficar tentando entender uma trama complexa ou não ser atropelado emocionalmente por algum drama, pode dar play que é diversão garantida.
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