Crítica: Um Príncipe em Nova York 2 (Coming 2 America)
Foi com muita surpresa que eu fiquei sabendo que estavam fazendo este Um Príncipe em Nova York 2, pois a notícia chegou a mim logo após eu publicar o nosso quadro Nostalgia sobre um dos maiores, quiçá o maior, clássicos da Sessão da Tarde: “Um Príncipe em Nova York“. Inclusive, faço um apelo a todos que cliquem nesse link e deem uma lida para que vocês tenham a exata medida do tamanho e da importância desse filme para toda uma geração.
Para quem não reviu recentemente o original de 1988 dirigido pelo seminal John Landis, sinto destruir o pedestal no qual você provavelmente colocou essa obra, mas, analisada de forma objetiva e sem nostalgia, “Um Príncipe em Nova York” é uma obra ruim, inconsistente e datada. Contudo, mesmo sendo pau no cu ao extremo, é impossível negar os seus momentos de absoluto brilhantismo, todos eles ocorrendo sempre que a narrativa se desvia do arco principal e se concentra em personagens secundários e hilários, como o pessoal da barbearia e a galera da igreja, em especial a já mitológica banda Chocolate Sensual, liderada pelo sex symbol Randy Watson.
À exceção dessas verdadeira esquetes, o primeiro filme chega a ser pavoroso, com atuações ruins e um roteiro bobo ao extremo. Mesmo assim, ele marcou época, com personagens que ficaram para sempre na mente de todos nós pelo simples fato de que Eddie Murphy é nada menos do que um dos maiores comediantes de todos os tempos e ele consegue, com todo o seu talento para fazer rir, tornar uma produção mais ou menos em um marco da comédia no Cinema.
Passados 33 anos, a Amazon Prime resolveu fazer uma continuação que cabe naquela caixinha de “sequências que ninguém nunca pediu”, trazendo para nós esse Um Príncipe em Nova York 2 que segue os mesmos passos do primeiro em tudo que é negativo, mas, infelizmente, deixando de lado tudo aquilo que é positivo.
Nesta continuação, a grande nação de Zamunda vê seu rei Jaffe Joffer (James Earl Jones) deixando o trono para seu filho, Akeem (Eddie Murphy), após morrer no seu próprio funeral em uma cerimônia que não faz o menor sentido. Akeem não tem um herdeiro macho, o que é visto como uma fraqueza pelo General Izzi (Wesley Snipes), o Senhor da Guerra e governante da nação vizinha Nexdoria (um trocadilho horrível com “next door”, algo como vizinho em tradução livre). Mas, fazendo uma quebra quase imperdoável com o roteiro do primeiro filme, Akeem descobre que tem um filho bastardo no Queens concebido sem que ele sequer soubesse. Então ele, sob os protestos de sua filha mais velha, volta à América para encontrar esse filho, Lavelle (Jermaine Fowler), um sujeito gente boa, mas que ganha a vida de uma maneira nada salutar.
E é isso. Todo o resto a gente já sabe como vai ser. Lavelle vai pra Zamunda, vai ser submetido a um casamento arranjado, vai se apaixonar perdidamente por uma criada em 5 minutos e, pronto, o futuro de duas nações vai estar em jogo por conta do amor, tudo isso entremeado com participações esporádicas dos personagens secundários que fizeram Um Príncipe em Nova York o que ele é, muito embora os coroas da barbearia tenham no mínimos 95 anos hoje.
É bobo, previsível e derivativo ao extremo. Mas tudo isso poderia ser perdoado se, assim como no primeiro filme, nós estivéssemos diante de uma comédia que nos fizesse rir, que apresentasse situações engraçadas, personagens memoráveis e circunstâncias que não nos deixassem escolha que não a gargalhada. Isso não ocorre em momento algum! O que temos aqui é uma comédia que não faz rir, que se preocupa mais em jogar easter eggs do filme original na tela e em enfiar diversos números musicais absolutamente estapafúrdios e sem propósito na goela do espectador. É sério, deve ter uns 10 números musicais, com dancinha, coreografia e os caralho.
À exceção de um único momento em que eu ri justamente por causa da lenda que é Randy Watson e sua banda Chocolate Sensual, eu passei o filme todo olhando enfastiado para a tela, esperando, torcendo e desejando um riso. Estava com uma boa vontade enorme de achar uma risada ali, mas ela simplesmente não vinha. E eu sou o tipo de cara que ri 100% das vezes em que meu cachorro peida, por exemplo.
Cabe lembrar aqui, ainda, que este é um filme totalmente chapa branca e manso. Enquanto que no primeiro tínhamos palavrões, usos da palavra que eu não posso repetir porque sou branco e peitinhos, aqui não temos nada disso. É tudo pasteurizado, insosso, sem brilho, sem cor e, principalmente, sem personalidade, o que vai de encontro a tudo que o filme original representa.
Contudo, repito: tudo isso poderia ser perdoado e ignorado se a película ao menos apresentasse alguns momentos de graça. Afinal de contas, a razão de ser precípua de uma comédia é fazer rir. E isso não acontece, de modo que a obra traz ao espectador somente um festival de estereótipos africanos – que eu honestamente não sei nem como conseguiu ser produzida na atual conjuntura de Hollywood – e números musicais que beiram o constrangedor. Quando Bopoto (a esonteante cantora Teyana Taylor), a prometida de Lavelle, começa a cantar sabe-se lá porquê e ele pega o microfone e começa a fazer uma rima do nada dentro de um palácio no meio da África, a vontade era trocar de canal, mas o advento do streaming não nos permite mais fazer esse tipo de coisa.
Enfim, eu sinto muito pelo legado de Eddie Murphy, lamento demais pelo pessoal da barbearia que viveu até os 100 anos para participar dessa desgraça e sinto especialmente por Randy Watson e o Chocolate Sensual. Eles mereciam um revival muito melhor do que esse.
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