Garimpo Netflix #94
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Vou logo avisando que hoje eu tô com a chamada macaca. Nenhum dos títulos indicados hoje é qualquer coisa que não excelente. Temos um filme nacional que, ao meu ver, é das melhores coisas produzidas aqui nos últlimos anos, uma minissérie original Netflix que acredito ser das melhores coisas que ela já fez e uma produção que desafia categorização, criada por dois nomes lendários e que é a melhor coisa que vi nos últimos meses.
De nada, meus amores. Divirtam-se!
– O Animal Cordial, de 2017, dirigido por Gabriela Amaral
Em minha humilde opinião, O Animal Cordial estaria pelo menos em um Top 5 do Cinema nacional dos últimos cinco anos. De cabeça, somente Bacurau me vem a mente como algo superior a esta obra. Como vocês podem ver melhor na crítica de minha autoria que segue linkada acima, o filme é um microcosmos de todo um Brasil a serviço do entretenimento. Explico: O Animal Cordial tem o enorme mérito de fazer comentário social dentro de uma obra que se entende enquanto peça de entretenimento antes de mais nada. É um filme que milita sem gritar, discute sem enfiar o dedo na cara, debate sem agredir. Ao mesmo tempo que entretém, bota um dedo na ferida e torce. É, portanto, brilhante nesse sentido.
Aqui temos um restaurante no qual estão representantes de todos os estratos da sociedade e no qual um assalto dá errado, trazendo à tona uma série de sentimentos, sensações e situações que vão desabrochar em seus personagens suas verdadeiras naturezas. Destaque absoluto para o elenco excelente, com o espetacular Irandhir Santos, o global e subestimado Murilo Benício e Luciana Paes, perfeita no papel. É, sem sacanagem, uma das melhores coisas que há disponível na Netflix.
– Godless, de 2017, criada por Scott Frank
Primeiramente, gostaria aqui de pedir desculpas pela crítica em anexo de Larissa Moreno. Ela, incensada por seu feminismo e pelo trailer da série que a fez crer que Godless seria um faroeste versão feminina, ficou bem frustrada e, em função disso, fez uma análise bem enviesada e, ao meu ver, equivocada da série. O que temos aqui é uma puta história sobre família, sobre vingança, sobre dever, sobre tudo aquilo que faz o Western um dos gêneros mais completos do audiovisual.
Em Godless, acompanhamos paralelamente a saga do fora da lei Frank Griffin (pelo estupendo Jeff Daniels), de seu protegido e renegado Roy (Jack O’Connel), do xerife míope Bill (o sempre excelente Scoot McNairy) e da cidadezinha de La Belle, cidade esta que viu quase todos os seus homens morrendo anos antes em um acidente na mina que é a sua razão de ser. O que temos aqui é uma série de narrativas – nas quais as mulheres têm um óbvio protagonismo nas figuras de viúva Fletcher (Michelle Dockery), da lésbica Maggie (Merritt Wever) – que vão finalmente convergir na cidade de La Belle. Tudo regado a diálogos primorosos, uma cinematografia belíssima e uma trilha sonora perfeita para toda a ambientação.
É uma minissérie de 7 episódios entre 40 e 80 minutos que conta um arco fechado e excelente. Vale demais o seu tempo.
– Faz de Conta que NY é uma Cidade (Pretend It’s a City), de 2020, dirigida por Martin Scorsese
Esta minissérie em sete episódios de meia hora é algo bem sui generis dentro do catálogo da Netflix. Não é propriamente um documentário, não é propriamente uma ficção e não é propriamente um reality show, mas é, de certa forma, um pouco de tudo isso. Aqui acompanhamos dois monstros sagrados da cultura americana, Martin Scorsese e Fran Lebowitz, simplesmente conversando. E quando dois gênios absolutos conversam sob a batuta de um deles, o resultado não poderia ser nada menos do que brilhante.
Basicamente, a série mostra Fran falando sobre tudo e um pouco mais, sempre com Nova Iorque como pano de fundo e/ou assunto principal. Nisso nós temos discussões sensacionais sobre arte, sobre a sociedade, sobre Nova Iorque, sobre o mundo e sobre a própria condição humana, tudo sempre pontuado pelo senso de humor único de Fran e pela gargalhada contagiante de Scorsese, que, além de dirigir, também se vale dessa produção como uma ode de amor à cidade, à amizade e à arte.
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