Crítica: A Love So Beautiful
Recentemente foi noticiado que a Netflix reservaria cerca de meio bilhão de dólares para investimentos em produções coreanas. Os frutos dessa estratégia já podem ser sentidos em uma rápida olhada pelo acervo do streaming. Felizmente, cada vez mais os títulos desse país vão acrescentando em conteúdo. Semana passada, tivemos o lançamento de um belo filme – “Noite no Paraíso” – e de um dorama. Esta semana, mais outra série. Fora aquelas que contam com atualizações semanais de episódios – como é o caso do quase concluído “Vincenzo”. Hoje, portanto, vamos nos debruçar sobre o romântico remake de um dorama chinês (intitulado “Um Amor Lindo Demais” e presente no Rakuten Viki): A Love So Beautiful.
Acompanhamos a saga de amadurecimento dos sentimentos de Shin Sol-Yi (pela fofíssima So Joo-yeon, que também marca presença em outro dorama original Netflix ainda para estrear no Brasil: “Lovestruck in the City”). Ela é uma adolescente no ensino médio, que distrai sua rotina entre estudos e saída com seu grupo fechado e fiel de amigos. Sobre eles, há um de quem ela gosta e há outro que gosta dela. Quase como uma obrigatoriedade de todo dorama, o triângulo amoroso aqui é muito bem marcado, em especial porque mantém – como na maioria – a pegada de não haver um par que o público rejeite unanimemente. O resultado disso é o espectador sempre se perguntar se estaria “shippando” errado. E, neste caso específico, foi exatamente o que aconteceu comigo ao longo dos 24 curtos episódios de cerca de 25 minutos cada.
Isso porque o amigo que ela não gosta é super fofo, solícito e que faz de tudo para ser notado por ela. Um verdadeiro cavalheiro. Enquanto que o que ela gosta de verdade, de início ao menos, é um verdadeiro babaquinha, mimado, que desdenha das ações verdadeiras e extremamente românticas de Shin Sol-Yi. Mas nada na Coréia do Sul é um emaranhado de estereótipos sem uma construção minimamente complexa. As narrativas coreanas parecem rejeitar arquétipos simples que encarnam algo específico e mais nada além disso. À medida em que os episódios vão passando, o escrotinho vai se descobrindo e revelando para si próprio seus sentimentos por ela. Ele começa a transformar suas atitudes. Percebendo isso, o fofo cavalheiro que sempre gostara dela começa a tentar sair de cena. E esse é um outro ponto bem agradável dos triângulos amorosos em doramas coreanos: ninguém age fora da ética, desrespeitosamente ou com lapsos de caráter. O respeito parece ser uma das qualidades de maior destaque nessas narrativas.
Mas o ponto mais alto mesmo dessa série é a leveza. Quando o sul-coreano cisma de ser visceral, o negócio atinge novos conceitos de extremismo. Porém, quando eles optam por serem agradáveis e leves, parece que têm o poder de nos fazer flutuar. E esta é a sensação ao ver A Love So Beautiful. Uma história simples e inocente sobre algo que deveria ser a encarnação própria da inocência: o amor de juventude. Se no mundo ocidental é na juventude que as pisadas fora da linha começam e vão ficando cada vez maiores, (de)formando o caráter das pessoas, no mundo asiático (pelo menos no sul-coreano) é ainda tão puro como um conto de fadas. Não à toa, na vida real, a média de idade do primeiro beijo de uma coreana se dá entre 19 e 20 anos. Inimaginável para padrões ocidentais, não? E é exatamente essa estrutura de uma quase fábula responsável por envolver o espectador em uma história que traz respiro, frescor e delicadeza em meio ao caos e loucuras incontroláveis do nosso feio mundo do dia a dia.
Como sempre digo, dorama não é um gênero único e sem nuances. Existem doramas de ação, suspense, terror, mas quase todos contendo alguma forma de romance, também. A Love So Beautiful é o clássico exemplo do romance exclusivamente. E, como dito anteriormente, um romance leve, pueril, inocente. Ou seja, tudo o que necessitamos para equilibrar os antônimos que vivemos em cada letra de jornal, em cada cena de noticiário, em cada som de intolerância nas ruas.
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