Crítica: Radioactive
Caso você viu apenas o título deste filme, sem nem se importar em checar a sinopse, você deve não ter interesse ou achar que tem algo relacionado àquela música do Imagine Dragons. Considerando que uma ex-colega de classe não sabia quem era Stephen Hawking, a primeira possibilidade é forte e triste. Mas descartemos essas alternativas porque, apesar de não ser extraordinário como a figura que retrata, Radioactive vai além da vida da pioneira Marie Curie.
Inspirado na vida conturbada da cientista e no quadrinho homônimo de Lauren Redniss, o drama de 1 hora e 50 minutos conta, de acordo com o site IMDb, “a incrível história real de Marie Sklodowska-Curie (Rosamund Pike) e seu trabalho vencedor do Prêmio Nobel que mudou o mundo”. Com todo respeito, se essa realmente foi a melhor maneira deles resumirem a trama e trajetória da “mãe da radiação” e primeira mulher a receber o Nobel (duas vezes, inclusive, por conquistas diferentes), é um tanto pobre até mesmo para uma sinopse. De fato, o filme não é uma biografia detalhada, mas entendo o motivo, já que não é sua proposta e recebemos o suficiente para compreendermos e nos envolvermos com a história de Madame Curie, que, assim como a própria, é excepcional.
Assim como o caminho até a pioneira atingir e perder (e conquistar de novo) o status de veneração, a distribuição do filme não foi fácil. Teve uma estreia limitada em 2019 e mundial no ano seguinte no Dia Internacional da Mulher (data merecida, aliás), mas nem chegou a estrear em cinemas brasileiros e de outros países devido à pandemia do novo coronavírus, que interrompeu toda e qualquer atividade envolvendo aglomeração, sendo uma delas as idas ao Cinema. Este ano, por algum motivo, o longa foi lançado no Brasil pela Netflix, mas como um produto original Amazon Prime para o resto do mundo.
De qualquer forma, a espera valeu a pena, mesmo com seus pontos fracos, entre eles a caracterização dos personagens quando mais velhos – particularmente a de nossa protagonista, que mais parece a transformação polêmica de Carey Mulligan em “A Escavação”. Além disso, o roteiro conta com momentos um tanto questionáveis, desde a maneira exageradamente clichê estilo comédia-romântica em que Marie e Pierre (Sam Riley) se conhecem ao final em aberto.
Entretanto, os pontos fortes são muitos, inclusive o próprio roteiro que traz as cenas interligadas de desastres envolvendo radiação (Hiroshima, Chernobyl e testes com bombas) e seu uso positivo, como no tratamento de câncer. Outro aspecto positivo é como o filme se aproveita do fato de ser baseado em um livro ilustrado, pois utiliza vários recursos visuais que deixam a história ainda mais divertida de se assistir, como inserts e simulações de células e outros elementos realizadas por computação gráfica. Temos também a trilha sonora etérea de Evgueni e Sacha Guelperine e a direção sob o comando mais que capaz de Marjane Satrapi, responsável por trabalhos como a animação “Persépolis”, que fez dela a primeira mulher a ser indicada ao Oscar de Melhor Animação. Por fim, o elenco estelar. O que falar de Rosamund Pike? A vencedora do Globo de Ouro deste ano nunca entrega uma atuação abaixo da média e esta é mais uma para sua coleção exemplar (nota: se você é fã dela, sacou a referência que acabei de fazer), entregando uma Marie Curie determinada, carismática e com defeitos, humanizando-a. Sem dúvidas, uma das maiores e mais subestimadas atrizes da atualidade. No papel do professor e cientista Pierre Curie, Sam Riley demonstra ótima química com Pike, classe e um certo cavalheirismo como o parceiro de trabalho e vida da mãe da radiação. Em papéis coadjuvantes, temos Aneurin Barnard como Paul Langevin, colega dos Curie, Sian Brooke no papel da irmã de Marie, Bronia Sklodowska, e Anya Taylor-Joy antes de seu sucesso estrondoso em “O Gambito da Rainha”. Apesar do papel pequeno, a atriz se destaca ao interpretar Irène Curie, futura vencedora do Nobel e filha de Madame Curie.
No final das contas, “Radioactive” mostra por que é a maior estreia da semana e uma ótima pedida para o dia das mães. Inclusive, minha mãe fez um trabalho para uma exposição cujo tema era “Mulheres na Ciência” e Curie fazia parte da coleção. Mami, espero que você e todas as mães do Brasil apreciem o filme.
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