Garimpo Netflix #97: Desejo
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Desejo (significado):
1. aspiração, querer, vontade.
2. expectativa de possuir ou alcançar algo.
Desejo é aquilo que nos motiva obter algo. Dar vazão indiscriminada a um desejo, no entanto, pode trazer consequências perigosas, na mesma medida em que sufocá-lo por completo também se apresenta como um flerte próximo do caos. O tema do garimpo de hoje busca três histórias que contam com o desejo como motivador principal de seus personagens. Uns com resultados devastadores, outros com uma beleza delicada que nos traz concepções mais sensíveis acerca da vontade de se obter algo.
Um drama com crime, um filme de amor e uma comédia com crime definem a tônica dos títulos da semana. O desejo, portanto, é o fio condutor que os une.
– Crime e Desejo (Above Suspicion), de 2019, dirigido por Phillip Noyce
Baseado em uma história real bem forte, acompanhamos um promissor detetive do FBI, Mark (Jack Huston), que se muda para uma cidade de interior para investigar crimes locais. Com a perfeita família americana em casa, ele começa a se envolver com uma informante, Susan (Emilia Clarke), que é o oposto das conquistas do rapaz: ela é a encarnação própria do white trash. Focando em sua busca por prender os bad guys, Mark quebra a principal regra dos detetives: nunca deite com sua informante.
O romance proibido e completamente obscuro que surge entre os dois os faz cair em um abismo no qual um não vê saída, nem para si mesmo, nem para o outro. Essa teia poderosa que os envolve e os sufoca vai levando cada um dos protagonistas ao extremo mais vil de suas personalidades.
Um filme bem contado que se torna tão mais forte quanto mais nos mostra o lado verídico deste acontecimento.
– Me Chame pelo Seu Nome (Call Me by Your Name), de 2017, dirigido por Luca Guadagnino
Anos 80 na Itália. Um romance improvável começa a se desenvolver entre um garoto de 17 anos e um homem mais velho, contratado para dar assistência em pesquisa ao pai do rapaz. Portanto, uma história de amor gay, passada décadas atrás, teria muito para se tornar um conto triste, cheio de tensão e opressão. Desejos reprimidos da parte de muitos ou de todos. Mas o que se passa nas cenas de Me Chame pelo Seu Nome é uma narrativa sensível, cheia de beleza e que foca tão somente na descoberta e amadurecimento de um relacionamento que não encontra resistências.
Após indicá-lo a um amigo gay, ele retrucou “o filme é lindo, mas impossível”, ao comentar que não há espaço para aspectos negativos nessa história. Mas é exatamente nisso que a obra marcante de Luca Guadagnino se destaca: o mergulho integral em um relacionamento, sem dar tempo para considerações negativas que não envolvam única e exclusivamente os agentes diretos desse romance.
Com atuações memoráveis de Armie Hammer e Timothée Chalamet, esta obra é definitivamente incrível.
– Eu Me Importo (I Care a Lot), de 2020, dirigido por J Blakeson
Lançado há pouco na Netflix, é possível que tenha aparecido como indicação da própria plataforma para você. Caso não tenha te chamado atenção, segue aqui a nossa veemência na indicação. Eu Me Importo é aquele tipo de filme que conta só com gente escrota. Basicamente, todos os personagens são um bando de babacas estúpidos e a sua empatia com a protagonista Marla (Rosamund Pike) beira o nulo. Eis que você se pegará torcendo por um gangster anão (Peter Dinklage) igualmente escroto, mas com um tanto mais de ética no seu submundo pessoal.
Se é verdade ou não (e acredito que seja), o filme nos mostra um Estados Unidos perdido em considerações de justiça: Marla, a golpista, encontra velhinhos solitários e ricos demais e, com a parceria com uma média igualmente golpista, arruma um falso atestado concluindo que o idoso não tem mais condições de seguir sozinho com sua vida, interna-o em um asilo quase hospício e passa a “administrar” suas riquezas. Tudo isso com um aval bastante cego de uma Justiça (que é realmente cega já em sua representação). Mas a busca pelos feijões de ouro faz Marla encontrar o gigante devorador: o anão criminoso filho de um dos alvos da golpista.
A partir desse encontro inesperado, a escrotidão de cada qual vai se intensificando em uma luta pelo desejo de poder e riqueza. Um filme a um só tempo cômico e dramático… e bem divertido.
Leave a Comment