Crítica: Aqueles Que Me Desejam a Morte (Those Who Wish Me Dead)

O novo longa dirigido por Taylor Sheridan e estrelado por Angelina Jolie entrou no circuito brasileiro de cinemas na última quinta-feira (27) e, muito provavelmente, vai agradar aquele tipo de espectador que só está interessado em distrair a cabeça e acompanhar um joguinho de gato e rato por pouco mais de 1h30min.

É o famoso filme de Tela Quente.

Eu estaria mentindo se dissesse que Aqueles Que Me Desejam a Morte é o tipo de obra que normalmente me atrairia, mas eu me peguei sendo puxado para a história conforme ela avançava, mesmo sem que houvesse qualquer complexidade nos momentos de transição, muito por conta do efeito catalisador da floresta em chamas que passou a ter um efeito de bomba-relógio.

Logo de cara, somos apresentados ao perito contador Owen Casserly (Jake Weber), responsável por desvendar algum tipo de esquema obscuro envolvendo magnatas e pessoas influentes do governo, e a seu filho Conner (Finn Little), que rapidamente despontam como alvos de uma busca implacável por parte dos agentes Jack (Aidan Gillen) e Patrick (Nicholas Hoult), que farão de tudo para silenciar a família e preservar o bom andamento dos negócios.

Quando uma abrupta amostra de eventos deixa claro para Owen que ele e o seu filho serão os próximos na lista de execuções, o jeito foi partir para o acampamento de seu cunhado Ethan Sawyer (Jon Bernthal), uma importante figura policial da região, para tentar se proteger e manter a maior distância possível dos inimigos.

No entanto, evidentemente alguma coisa teria que sair do planejado…

Ao vagar sozinho pela floresta isolada, depois de uma traumática experiência de tiroteio, o pequeno Conner acaba sucumbindo à proteção de uma bombeira paraquedista chamada Hannah Faber (Angelina Jolie), que havia sido remanejada para uma torre de incêndio erguida no local depois que um desastroso erro durante uma missão no passado passou a atormentá-la de maneira incessante.

De certa forma, a sutileza na construção da personagem de Angelina Jolie, com alguns flashbacks do incidente pretérito e os efeitos sobre a sua personalidade repleta de angústia e rebeldia, foi informativa o suficiente para nos dar o incentivo de que precisávamos até admitir o porquê de sua personagem reagir a determinadas situações do jeito que ela reagia. Ao meu ver, esse nó ficou bem amarrado.

Talvez o ingrediente mais interessante no quesito roteiro seja justamente o fato de que o filme está carregado de pessoas traumatizadas e com pouco trato para lidar com os seus demônios e com os demônios alheios. A única alternativa acaba sendo buscar forças no que resta de resiliência em quem está ao lado e isso é traduzido em uma química convincente entre Angelina e o ator mirim. Se para um estava ruim, para o outro estava pior.

E a partir daí é questão de tempo para que as coisas comecem a se desenrolar de maneira pouco surpreendente. O filme soa bem montado para a ação, mas ignora a profundidade dos personagens. A lindíssima localização arborizada onde grande parte da trama está situada acaba sendo subutilizada no aspecto do novo incêndio florestal, que vem à tona esdruxulamente.

Além dos lampejos iniciais e da boa troca entre os protagonistas (muito por conta do trabalho bem decente e natural entregue pelo jovem Finn Little), o filme de fato perdeu a oportunidade de dar sequência a alguns atos preparatórios que acabaram sendo acelerados demais. Se alguém descobrir qual era o segredo guardado por Owen, me avise.

Em compensação, seria injusto deixar de pontuar que os efeitos de Aqueles Que Me Desejam a Morte são bem feitos e que o uso acertado do som é capaz de inserir o espectador no meio do fogo. Enquanto a paisagem é lambida pelas chamas, é possível ouvir limpamente o barulho do fogo estalando ao redor da cena, o que é uma ótima maneira de trazer o público para o cenário caótico.

Provavelmente se você não assistir ao filme em uma boa sala de cinema, esse tipo de sensação poderá ser comprometida. No mais, embora o roteiro parta de uma premissa simplória e o desfecho não seja tão empolgante, esse é um daqueles filmes que não vai acabar com o dia de ninguém. Se você estiver emotivo, dá até pra dar uma lacrimejada. Se resolveu assistir só por causa da beiça da Angelina, também dá pra sair satisfeito.

Ignore as conveniências do filme (e da vida), mas não se esqueça que onde há fumaça, há fogo.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.