Crítica: Cruella

Ela. O pesadelo de qualquer dono(a) de cachorro. Uma figura de peso no mundo da moda. Ícone da cultura. É só tocar as cinco primeiras notas da música para saber de quem estou falando. Um ser de famigerada crueldade, que agora é a “heroína” da história? Acredite se quiser, mas você vai se apaixonar da maneira mais bizarra possível por Cruella.

Se tentarmos formar uma ligação com a animação original e o também live action estrelado pela lendária Glenn Close, ao invés de ambientada na década de 60 ou 90, a história se passa na cidade de Londres nos anos 70 em meio à chamada Revolução Punk. Estella (Emma Stone) é ambiciosa, criativa e dotada de muitos talentos para a moda, a indústria onde deseja estabelecer um status de fama e poder. Não será fácil trilhar esse caminho, mas uma “oportunidade” entra em cena na forma da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), estilista lendária que enxerga o potencial e genialidade da jovem. Isso é apenas a ponta do iceberg que guarda todas as surpresas, emoções e reviravoltas presentes nessa reintrodução da vigarista mais querida da Disney.

“Será que alguém vai assistir no cinema respeitando medidas de distanciamento e usando uma máscara?”

Perdoem-me por sair do tema, mas o único aspecto negativo, até certo ponto, que tenho para destacar não é nem ligado ao filme em si, e sim à distribuição aqui. Duvido que boa parte dos espectadores que assistirão ao longa fora de casa irão realmente se proteger, mas o simples fato de reabrirem cinemas parcialmente e exibindo bons filmes como este já é alguma coisa. Em contrapartida, o Disney+ oferece acesso exclusivo à produção (antes de sua própria estreia no serviço de streaming) por R$69,90. Meio carinho? Sim, mas vale muito a pena e aqui vão mais motivos pelo qual “Cruella” vale cada centavo e segundo do seu tempo.

“Eu sei que vários de vocês leitores tão aglomerando por aí sem máscara…”

Essa não é a primeira vez que o australiano Craig Gillespie faz um filme sobre uma vigarista louca, sendo a primeira na biografia vencedora do Oscar “Eu, Tonya”. O diretor se superou e entregou um trabalho muito bem conduzido por sua direção dinâmica e os seguinte fatores, sendo o primeiro a estética. O departamento de arte fez uma ambientação maravilhosa ao recriarem essa Londres em período de transformação, sem falar no figurino brilhante, exuberante, que foge do caricato e fiel à ascensão do movimento Punk da década de 70. Temos também as músicas, um show por si só e fundamentais para o desenrolar da trama. Além do instrumental composto por Nicholas Britell, a trilha sonora conta com presença de artistas que marcaram essa geração, desde The Doors, Bee Gees, Blondie e Queen a The Clash e Supertramp, além de canções icônicas como “Feeling Good” de Nina Simone, “Come Together” dos Beatles, na voz de Tina Turner, e “These Boots Are Made For Walkin'” de Nancy Sinatra.

Em seguida, o roteiro superou minhas expectativas ao conseguir se mostrar original com a construção e desenvolvimento dos personagens (todos melhores que suas encarnações anteriores), uma sequência de surpresas ao longo da história, com “homenagens” a seus “antecessores” e justificando as ações da “vilã” titular. E esse elenco estupendo dispensa apresentações. Na pele da fria e cínica baronesa, Emma Thompson intimida, trapaceia e arrasa como sempre, além de me dar uma puta vontade de meter um soco em seu rosto. Também integrando o elenco, temos Paul Walter Hauser e Joel Fry, respectivamente como Horace e Jasper, a dupla hilária de ladrões comparsas de Cruella, Mark Strong como John, figura crucial para um dos clímax do filme e John McCrea, aliado inédito da personagem titular que dá um show com seus looks e cover de “I Wanna Be Your Dog”, do The Stooges. Por fim, a dona da porra toda, um espetáculo à parte: Emma Stone! Essa musa versátil talentosíssima domina toda cena em que se encontra e dá vida a uma Cruella desde sua gênesis no mundo da moda ao início de seu reinado psicótico, tornando-a sua e demonstrando seu lado humano, talvez a melhor característica dessa versão de Cruella.

To see her is to take a sudden chill… Cruella, Cruella De Vil *começa uma mega solo de guitarra*

Vista-se bem e proteja seus cachorros, especialmente se forem dálmatas. Prepare-se para esse crossover entre “Coringa” e “O Diabo Veste Prada” que é meu novo favorito dessa safra de live actions do estúdio. Uma história de origem que foge do convencional, um spin-off que não é um spin-off e muito menos um remake. Chame do que quiser, mas Cruella vai te seduzir. E torço muito para uma sequência, pois tem muito mais o que explorar!

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